Ang Lee não pode ser acusado de comodismo. Cada filme seu segue por um caminho completamento oposto ao anterior. Depois de um wu xia – um daqueles filmes de ação com chineses voadores -, fez um longa de super-heróis, um melodrama gay, um noir oriental, um filme hippie e agora resolveu se arriscar numa espécie de realismo fantástico. As Aventuras de Pi é um de seus trabalhos mais arriscados: um filme rodado basicamente num cenário virtual, onde o diretor abusa da fotografia e dos efeitos visuais, que passam ao primeiro plano e ajudam a ambientar a fantasia da história.
O longa, baseado num livro de Yann Martel, acusado de plágio de uma obra de Moacyr Scliar, se dispõe a arrebatar corações sensíveis: um garoto indiano, cuja família buscava um futuro na América, é o único sobrevivente de um naufrágio, mas precisa dividir espaço um tigre num barco salva-vidas. A jornada mar adentro, além de luta pela sobrevivência, assume o formato de viagem em busca do eu interior. Pi, o protagonista Piscine, vivido pelo bom Suraj Sharma, tira de sua experiência uma “lição de vida”. A natureza piegas do material só se transforma nas mãos de Ang Lee.
Tudo o que acontece na história antes do naufrágio é uma sucessão de iscas afetivas emolduradas num visual envernizado; formulazinha básica para encantar que ganha direção com o trabalho do cineasta.
Lee usa cores vivas, toneladas de truques fotográficos e mergulha o filme num turbilhão de efeitos especiais que conseguem lançar As Aventuras de Pi no plano mágico imaginado por Martel. A opção arriscada de Lee, assumir o artificial, faz com que a história encontre o formato mais adequado. Talvez por isso mesmo a passagem em que o protagonista, já adulto, “explica” suas aventuras pareça tão desnecessária. É como se o cineasta não confiasse na fórmula que adotou e não quisesse deixar dúvidas. Uma bobagem para alguém que embarcou na fantasia sem limites.
As Aventuras de Pi
[Life of Pi, Ang Lee, 2012]
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Chico, tu lestes o texto do Sergio na Interlúdio sobre “Pi”? Ele elogia justamente essa parte em que Pi “explica” suas aventuras. Adoro teus textos, Chico, mas nessa eu tenho de concordar com ele. Abs!
Reflexão interessante do Sergio, Vinícius. Ainda assim a história “desnudada” me incomoda.