Azul é a Cor Mais Quente

Abdellatif Kechiche é um cineasta com um talento inerente para capturar o comportamento humano. Seus longos planos e seus close ups invadem a intimidade dos personagens, revelando-os para além da câmera. O espectador de seus filmes é convidado a dividir a vida daquelas pessoas, pactuando com cada um de seus movimentos, decisões e motivações. Azul é a Cor Mais Quente se utiliza do mesmo mecanismo. Ao longo de três horas, conhecemos intimamente duas mulheres que estão destinadas a se encontrar: Adèle, vivida pela novata e exuberante Adèle Exarchopoulos, e Emma, papel da jovem veterana Léa Seydoux. A seu método tradicional, Kechiche adiciona um fio condutor: o desejo que existe entre as personagens.

Protagonista e personagem-título (pelo menos na versão original) do filme, Exarchopoulos emana uma sensualidade nata. As curvas carnudas, a boca de criança e os cabelos desarrumados seduzem com mais facilidade do que os corpos esculpidos em academias e funcionam com perfeição nas cenas de sexo em que Kechiche parece querer entorpecer o espectador. Sobretudo na principal e mais longa destas cenas, que gerou a polêmica que cenas de sexo assustadoramente reais geralmente costumam gerar, mas que o diretor defende como “uma cena de amor” cuja duração ser longa simplesmente porque ele achou que ela deveria ser assim, sem, nas palavras do cineasta, se preocupar com seus efeitos.

A afirmação soa um tanto ingênua já que Kechiche realmente se dedica a rodar uma cena cheia de tesão, com riqueza de detalhes, sem qualquer pudor em mostrar o encontros dos corpos das duas atrizes, capturando cada som, cada gemido, passeando pelas mais variadas posições. É meio impossível dirigir uma cena assim sem imaginar que ela vá chocar ou excitar alguém. As imagens dividiram opiniões, como se poderia imaginar, mas não me parece que a intenção seja exclusivamente fetichista ou que haja misoginia ali. Por mais explícitas que as imagens sejam – e elas são bastante explícitas, mas não gratuitas ou excessivas – existe uma preocupação em se filmar com elegância o belo, como se aquele momento fosse uma homenagem ao corpo da mulher, um louvor ao sexo das atrizes, uma declaração de amor à carne.

A discussão sobre o filme parece estar acontecendo pelo prima errado. A questão parece estar fora do espectro desta cena, embora as discussões passem necessariamente por ela. De uma forma geral, Azul é a Cor Mais Quente é muito bem filmado, mas a sensação é de que aquela é uma história ordinária, que já foi contada muitas vezes antes – e sob um foco parecido. Mesmo que seja baseado numa obra específica, o filme e seu cinema realista que decifra os personagens pela aproximação, que entende a vida como uma grande tragédia em movimento, não traz grandes novidades ao debate sobre o amor entre duas mulheres, sobre o amor entre duas pessoas, sobre o amor em si. Kechiche filma a grande tragédia da vida, os encontros e desencontros dos personagens, parando aqui e ali para se deixar seduzir pelo desejo. Será que sua intenção era realmente fazer algo novo?

Azul é a Cor Mais Quente EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[La Vie d’Adèle, Abdellatif Kechiche, 2013]

Comentários

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10 comentários sobre “Azul é a Cor Mais Quente”

  1. Chico tive a mesma sensação que você quanto a história em geral, nada de novo. Quanto a direção, fotografia e as atrizes, tudo lindo. A edição é discutivel, mesmo por que um filme tão longo consegue tosar personagens como os pais de Adele e o professor da escola que desaparencem de repente para filmar cenas oníricas e de sexo em abundância. Esse filme faz uma dobradinha com Jovem e Bela: jovens imaturas com dúvida sobre que caminho seguir que descobrem o sexo.

  2. O Chico, a Adele meia gordinha?? A atriz nao tem um corpo de maniqim, mas nao eh meio gordinha, não!! Corpo muito bonito!

    As cenas de sexo, me deixou sem JEITO! Estava na sala de cinema lotado aqui nos Estados Unidos! E, o publico formado por uma plateia de senhores e senhoras de 50/60 anos…..e não aguentei os suspiros….!

    O foco desse filme me fez lembra do TOCANTE , e LINDO, “Pariah”….uma adolescente descobrindo a sua sexualidade…..sofrendo pelo primeiro amor….e como encarar tudo isso entre amigos e família. O foco desse filme, deixou o drama famíliar de lado, e focou na vida de Adele!

    Como vc disse, esse tipo de enredo ja foi contado muitas vezes…..mesmo assim, LA VIE D’Adele eh um filme muito bom….nao pelas cenas de sexo PESADO, mas pela delicadeza da narrativa…..sim, eh um filme longo, mas não achei arrastado! Todas as situações que a Adele passa me envolveu! Gostei bastaste do filme. Ainda acredito que “Adèle Exarchopoulos” vai deixar alguns de boca aberta, assim como a sua personagem, quando forem anunciado as indicações ao Oscar de Atriz, e, se o “the Weinstein Company” tivesse distribuindo o filme aqui, acredito que o filme poderia entrar na corrida como melhor filme!

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