Natalie Portman

O fato deste filme ser sobre balé, uma arte conhecida pela rigidez, e de ter sido rodado com câmera na mão já merece aplausos. Mas esta é apenas uma das ousadias do novo trabalho de Darren Aronofsky, um diretor de extremos. Depois de fazer seu longa mais tradicional, O Lutador, onde sua experiência se limitava apenas à figura bizarra de seu protagonista, o cineasta resolveu se arriscar mais uma vez.

As bailarinas de Aronofsky trocaram o conto de fadas pelo de horror. Moram num ambiente de pressão extrema que transforma suas naturezas delicadas em carapaças de guerra. Como um comandante sádico, o diretor leva sua protagonista para a batalha, sempre tratando de investigar fronteiras e reforçar dicotomias. A leveza se confunde com a vilania, a fragilidade bate de frente com a determinação, o perfeccionismo esbarra na sanidade. Natalie Portman leva essa proposta aos limites de seu talento. Está em sua melhor forma.

O cineasta não está disposto a negociar: aposta num narrativa difícil, que assume a alucinação e materializa o invisível. Ele frustra as expectativas de quem só procura uma história porque está bastante interessado em dar corpo a seus excessos seja a que custo for. E esses excessos curiosamente parecem ter a medida certa. São espontaneamente funcionais. Mas só para quem estiver disposto. Se esse é um grande filme ou mais um experimento com prazo de validade, eu ainda não sei. Cabe a revisão. Mas somente o fato de triturar um universo idealizado já faz de Cisne Negro um filme raro.

Cisne Negro EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Black Swan, Darren Aronofsky, 2010]

Comentários

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16 comentários sobre “Cisne Negro”

  1. Gente!
    Nunca acho “drama freudiano” pastiche…
    Por sinal, é o que mais admiro em alguns diretores, roteiristas. A capacidade que tem de introduzir elementos , situações, personagens na perspectiva psicanalítica sem serem psicanalistas. Admirável!
    Já dizia Freud sobre a grande “habilidade” que tinham os poetas de escrever histórias como ele mesmo gostaria , mas que não tinha o talento para tanto.
    Um psicanalista seria então um “poeta” frustrado,confere? E alguns diretores de cinema? Psicanalistas ” frustrados”?
    Então… um diretor que enfoca a sexualidade feminina,os conflitos edípicos encobertos pela repressão. Uma atriz que consegue transmitir a dor de ser quem é…enfim…um filmaço!!!!!
    Abraços!
    Rosana

  2. falou bonito chico =)
    cisne negro foi um filme que foi me cativando aos poucos, quando chegou no climax parecia que eu sentia toda agonia da personagem….

    agora uma coisa que tava discutindo na univ. hoje era os motivos das alucinações da Nina, amiga minha tava botando a mãe dela como uma invejosa que tinha ciumes da filha então queria engordar ela com o bolo, maxucava a unha dela, se vestia sempre de preto contrastando com as cores sempre alvas que a protagonista usava e coisas desse tipo…. Acho que ao contrário, ela recusou o bolo por sofrer de transtorno alimentar, e tudo bem que a mãe a tratava feito uma criança de 12 anos e a mantinha sobre pressão, mas acho que a mãe fazia isso pq queria que ela fosse tudo que ela não foi….
    enfim =P
    fiz alguns comentários sobre ele aqui ^^: http://rebecaneiva.blogspot.com/2011/02/black-sawn-cisne-negro.html

  3. Os comentários são publicados/recusados de acordo com a pertinência/coerência ou quando/se destoarem demasiadamente da opinião do opinião do blogueiro? eu tinha que ter sabido disto antes de tomar a ousadia de (aqui) tentar postar a minha opinião.

  4. Achei o menos pior dos filmes dele. Mas não emociona enquanto poesia. Ao contrário, é esquemático demais pra essa estética chegar perto de uma poética. Vale pelo esforço da montagem e da atriz que realmente conseguem chamar a atenção a todo momento. Tem algumas cenas bonitas, mas todas com um sentimento muito confuso que, se por um lado podem espelhar a insanidade do mundo retratado, por outro não levam nosso pensamento muito além das auto-explicações propostas imediatamente.

  5. Amiga Gabriela, ate entendo algum cinefilo deistir de Tony Scott, Michael Bay ou Rolland Emmerich, más desistir do Darren Aronofsky? o cara é genial.

  6. Bom texto, Chico. Tenho uma opinião bem diferente, apesar de concordar com algumas coisas. Mas é sempre legal encontrar textos assim com bons argumentos e que não diminuem a obra que outros gostam.

    Pena que nem todo mundo escreve dessa forma (o texto sobre o Tio Boonmee do Rubens Ewald Filho, é uma afronta por exemplo).

    Estou te seguindo no twitter a um tempo (e gosto bastante dos seus comentários), se quiser me seguir @pedroprimo.
    Abraços.

  7. Concordo plenamente. Só pelo “fato de triturar um universo idealizado”, Cisne Negro já merece destaque. E eu arrisco dizer que é um grande pequeno filme, daqueles que crescem junto com o espectador ao longo dos anos.

    Um forte abraço.

  8. Cisne Negro me decepcionou. Aliás, acho que nunca mais assisto nada do Aronofsky porque já dei chances demais. A sequência final pra mim valeu pelo filme inteiro principalmente pela beleza estética, mas o drama é totalmente freudiano (e isso achei um pastiche). Perdi a paciência, não me comoveu nem um pouco. Natalie Portman está sensacional no filme mesmo.

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