O mais interessante em Clube de Compras Dallas é que este é um filme para o qual não se guarda grandes expectativas e que surpreende o espectador o tempo inteiro. Primeiro porque dois atores que passaram carreiras inteiras sem impressionar ninguém – pelo contrário, sempre foram desacreditados – estão, se não no momento mais especial de seus currículos, pelo menos excepcionais. Segundo porque o diretor Jean-Marc Vallée se reinventa como contador de histórias de homens comuns, tornando cada capítulo da vida dos personagens um momento importante para o filme.
Estamos diante de uma história real, de pessoas que contraíram HIV numa época em que isso significava ser condenado à morte. O caminho natural para qualquer cineasta “sem assinatura” seria apostar no drama como maneira de cooptação de quem assiste ao filme, mas Vallée segue uma estrada bem diferente, economizando nos momentos tristes, apostando num cinema mais direto, o que tem um efeito realmente impressionante: consegue humanizar tanto os personagens que deixa suas histórias muito mais palpáveis, muito mais emocionantes.
Clube de Compras Dallas não é, quase nunca, um grande filme, mas, em cada pequeno diálogo, em cada imagem calculada, sempre oferece mais do que se espera dele. Tanto que a história de altruísmo que se segue, já que os dois personagens se tornam “traficantes” de medicamentos para outros pacientes, se torna mais um detalhe num retrato do cotidiano e da aproximação entre protagonistas tão diferentes, o que o cinema quase nunca consegue materializar sem recorrer aos lugares comuns.
Grande parte do talento para fugir do mais óbvio se deve ao trabalho delicado dos atores. O longa coroa o momento de Matthew McConaughey, um ator que construiu uma carreira em filmes de fácil digestão e que planejou uma volta por cima em interpretações mais complexas em trabalhos mais sofisticados, como Killer Joe e Amor Bandido. A entrega de McConaughey aqui, muito mais do que sua transformação física, está em cada detalhe de sua interpretação, capaz de devastar o espectador com um simples olhar.
Por outro lado, Jared Leto, que havia se aposentado das atuações para seguir sua carreira de rock star, surpreende com a medida exata para a afetação de sua personagem. O ator parece realmente apaixonado por xxx, validando cada um de seus trejeitos, valorizando sua alma feminina sem enquadrá-la em qualquer tipo de classificação. A primeira cena em que a personagem aparece, a leveza que Leto impõe para alguém tão maltratado pela vida enche Clube de Compras Dallas de uma beleza singela que contagia todo o filme.
Clube de Compras Dallas
[Dallas Buyers Club, Jean-Marc Vallée, 2013]
Fiquei curioso: qual seria então, em sua opinião, o momento mais especial do currículo de cada um?
Um abraço!
Não disse que não eram os melhores momentos, Rodrigo, mas que talvez não fossem. No caso do McConaughey, prefiro ele em “Killer Joe” e o adoro em “Amor Bandido”, mas este filme está entre os highlights.
Pra mim, só não é o mais fraco concorrente ao Oscar 2014 porque tem “Gravidade”. E falo isso só tendo visto seis dos nove indicados.
OOwnn esse filme achei SIIMMM muito bom… achei meio injusto não ter levado mais indicações no Oscar.
A sua critica foi bem direta e disse tudo oque o filme realmente representa.
Mostrar o lado da máfia de medicamentos foi um ponto interessante que o filme mostra. Interpretação mmmmuuiiitooo decente dos atores. Realmente Jared supera todas as expectativas. O filme mais moderno da atualidade com certeza.