Embriagado de Amor

Os momentos mais bonitos de Embriagado de Amor são quando uma sucessão de cores explode na tela. Isso acontece umas três vezes no filme. Talvez mais. Os pigmentos borram a sala de cinema como se estivessem pintando as vidas de quem está sentado ali. Mas as cores bonitas do novo filme de Paul Thomas Anderson não ajudam seu protagonista. A vida de Barry Egan não é boa. Sua incapacidade de se relacionar com os outros, sobretudo com possíveis parceiras, é quase que completa. Egan vive uma realidade diferente. Projeta em si mesmo o que quer do mundo, o que pretende da vida. E ele pretendo pouco. Compra quilos de pudim para ganhar milhas de viagem que nunca vai usar e treme quando tem que dar uma resposta que seja. Egan é diferente? Não, por mais que tente se estabelecer um componente de normalidade em seu comportamento, ele tem sérios problemas psiquiátricos. Egan não representa o homem comum que não consegue se relacionar. Ele é um homem com problemas que não consegue se relacionar. Não reflete um comportamento no qual as pessoas vão se identificar porque suas reações para com o mundo não são as minhas, as suas ou as do cara ao lado. Sua história é uma só. É única.

Embriagado de Amor não tem amor. Talvez somente o amor fraternal que a irmã de Barry Egan tem por ele e que a faz tentar encontrar uma companheira para o protagonista. Talvez também exista amor na personagem de Emily Watson, como sempre muito bem, que surge e se interessa de verdade por uma pessoa que não interessa ninguém. Mas Barry Egan, por mais que possa se transformar num homem dócil, puro, sensível e inocente, não demonstra amor. Ele só segue o fluxo. Talvez não consiga se apaixonar, não consiga se envolver. Talvez sua natureza diferente o impeça de conseguir um relacionamento normal. Se bem que ninguém está aqui para definir o que é normal e o que não é. Isso pouca importa. O que importa é para o protagonista é muito mais importante resolver a confusão que criou por causa de uma ligação para o tele-sexo do que buscar uma alma gêmea realmente. E, no meio de dessa confusão, ele conhece uma moça que se interessa por ele. Aí, ele deixa fluir. Nada premeditado nem nada que demonstre ser intenso.

Isso não é ruim. Isso não é realmente necessário. Isso só é diferente. Paul Thomas Anderson muda tudo para contar o que se pretende como uma história de amor diferente. E Anderson, para variar, faz isso com competência. Competência em criar uma cena devastadora como quando a personagem de Emily Watson é apresentada a Barry Egan. Ou como quando Egan pede ajuda ao cunhado dentista e desaba num choro instantâneo por nada específico. Ou por tudo. Porque tudo na vida dele está errado. Ou ainda quando Egan tem súbitos ataques de fúria destruindo vidros e banheiros simplesmente porque não sabe mudar. Barry Egan quer ajuda e não amor. Ele quer sair daquilo tudo. E tudo o que o ajudar nesse intento será bem-vindo. Pode parecer cruel, mas é assim que Embriagado de Amor se apresenta para mim. Como um grito de socorro abafado, disfarçado e original. Um grito que precisaria de um ator magnífico para se sustentar, para ganhar nuances, para existir com força, da forma que deve ser. E consegue. Adam Sandler é mágico. E essa é a maior virtude e a maior surpresa do filme.

Embriagado de Amor
[Punch-Drunk Love, Paul Thomas Anderson, 2002]

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