Uma cena deletada, uma cena reduzida. Enquanto George Lucas enche seus filmes antigos de novos e novos efeitos, a versão reloaded de Gosto de Sangue tem três minutos a menos que a original, mas ganhou uma deliciosa abertura-piada, que brinca com a carreira comercial do filme. Curioso é constatar que, apesar dos inegáveis muitos êxitos em vinte anos de cinema, nunca os irmãos Coen foram tão bons quanto em seu longa de estréia.
O noir caipira da dupla é a materialização perfeita de suas boas idéias. O roteiro obedece às regras do gênero, mas não se limita quando quer reescrevê-las. O ponto de partida é a descoberta de uma traição. A seu favor, os Coen contaram com uma inteligentíssima fotografia de Barry Sonnenfeld e uma trilha tão bonita quanto assustadora, cortesia do habitué Carter Burwell. Se Frances McDormand já dava indícios da grande atriz em que viria a se transformar, Dan Hedaya e o impagável detetive de M. Emmett Walsh tiveram aqui os melhores momentos de suas carreiras. O som remasterizado da nova versão valoriza silêncios e insinuações. Gosto de Sangue é um filme delicado, calculado, bem pensado, mas nunca esquemático. Algo bem perto da perfeição.
Gosto de Sangue
[Blood Simple, Joel Coen, 1984]