Quvenzhané Wallis tinha apenas seis anos quando interpretou a protagonista de Indomável Sonhadora, título brasileiro de gosto duvidoso para “Beasts of the Southern Wild” (Feras do Sul Selvagem, numa tradução livre), o belo filme de estreia do diretor Benh Zeilin. Quvenzhané Wallis vai ter oito anos quando foi anunciada como uma das candidatas ao Oscar de melhor atriz por sua performance no filme.
Interpretações infantis sempre geram controvérsias. Afinal, onde termina o “ser criança” e começa o trabalho de ator em si? Mas o fato é que a presença da menina nas telas é magnética. Não é à toa que ela nunca saiu da maioria das listas de apostas para o prêmio da Academia. Isso desde que o filme apareceu no Festival de Sundance, em janeiro deste ano.
A garota interpreta Hushpuppy, uma criança que mora com o pai numa região de várzea na Louisiana, sul dos EUA, lugar ameaçado pelas enchentes e condenado pelas autoridades. Wallis é o maior cartão de visitas para o longa de Zeitlin, premiado como o melhor diretor estreante em Cannes, mas está longe de ser o único. Embora o roteiro apresente várias pequenas armadilhas para cooptar o espectador, a construção do filme é tão genuína que ninguém se sente culpado em cair em todas elas.
Mesmo ainda inaugurando seu cinema, o diretor consegue alcançar um difícil equilíbrio entre o cinema de cunho social, a denúncia, e o lúdico, o fantástico. O cenário impressiona por si só: um estado de miséria absoluta, onde a fartura de peixes e frutos do mar convive com a precariedade e a falta de higiene das pessoas que moram no local. Um lugar onde Hushpuppy faz a única coisa que pode: ser criança, o que envolve conversar com fantasmas, dar vida a seres monstruosos e imaginar.
A personagem principal do filme costura a realidade que vê em sua frente com seus desejos de um mundo idealizado, repleto de uma magia bruta, uma magia da natureza, a única que ela, em sua inocência, consegue visualizar. Se seu pai, interpretado pelo também ótimo Dwight Henry, é, ao mesmo tempo, sua raiz e sua força, é ele também que fornece a Hushpuppy sua herança mágica. Na convivência entre os dois, o espectador encontra uma história de amores brutos, um retrato ultrarrealista do isolamento e um pequeno conto em que o encontro com as fadas é rápido, mas serve para carregar as baterias.
Indomável Sonhadora ½
[Beasts of the Southern Wild, Benh Zeitlin, 2012]
Quero muito ver o filme, parece ser bem delicado. Com tua crítica fiquei com mais vontade ainda. Uma pena a tradução do título ficar tão diferente, acho muito chato quando isso acontece. E um detalhe, a menina está indicada ao Oscar, né? Como o texto foi postato hoje, mas provavelmente foi escrito há mais tempo, parece desatualizado…
É da época do Festival do Rio, Rayssa.
Imaginei! Mas achei melhor avisar… Sorry.