LUA CAMBARÁ – NAS ESCADARIAS DO PALÁCIO
Rosemberg Cariry juntou Dira Paes e Chico Diaz mais uma vez no sertão do Ceará. Sete anos depois do correto Corisco e Dadá, o cineasta volta ao semi-árido para contar uma pequena saga nordestina. Lua Cambará leva às telas a história de uma mestiça, resultado do estupro de uma escrava negra por um fazendeiro, que termina sendo criada pelo pai e assume seu lugar. O roteiro se apóia na figura mítica da sertaneja forte, erguida sobre as agruras da vida. Cariry acredita na idéia e tenta edificar seu pequeno épico. O tom escolhido é o grandioso, o que não é correspondido pelo orçamento. É duro ter que dizer, mas Lua Cambará precisava de mais dinheiro. Dinheiro para caprichar mais em direção de arte e figurinos e, sobretudo, nos efeitos especiais, pobres, que criam um anjo/demônio incômodo ou espalham gelo seco na noite do sertão.
Mas o problema não é só esse. Com o modelo épico adotado pelo diretor, todos acompanham sua viagem, quase que sempre sem muito sucesso. Caso de Dira Paes, normalmente correta, que exagera na caracterização visceral de sua personagem. O roteiro arma situações tão forçadas quanto sua interpretação. Os outros atores parecem nunca interagir uns com os outros. Muitos se mostram demasiado teatrais, outros até amadores. O novo cinema nordestino, que parecia ter nascido bem com Baile Perfumado (97), ficou somente na promessa. Quando não é velho por opção, investe na literatura equivocada, não forma seus atores, erra o tom, perde o fôlego em pouco minutos. É ruim ter que falar mal de um filme em que se percebe que muita gente investiu para que ele ganhasse vida, mas Lua Cambará é fraco do começo ao fim.
Lua Cambará – Nas Escadarias do Palácio
Lua Cambará, Brasil, 2003
Direção e Roteiro: Rosemberg Cariry.
Elenco: Dira Paes, Chico Diaz, Claudio Jaborondy, Nelson Xavier, Via Negromonte, Toni Silva, W. J. Solha, B. de Paiva, Joca Andrade, Antônio Urano, Douglas Machado, Márcio Jacques, Maíra Cariry, Pedro Gonçalves, Roberto Silva, Soraia Matre, Sofia Xavier, Muriel Racine.
Fotografia: Antônio Luiz Mendes. Edição: Rosemberg Cariry e Severino Dadá. Música: Guilherme Vaz. Figurinos: Albanita Camurça.