A ÉPOCA DA INOCÊNCIA

Um pequeno tratado sobre a idade onde não se pode controlar o corpo e a alma

Não existe nada de realmente especial neste filme lindo. Ele só é lindo pelo mesmo motivo que faz Conta Comigo (Rob Reiner, 86) ser um filme lindo. Ele é um filme sobre as pequena coisas, aquelas as quais nós mal conseguimos falar, sobre as quais só os grandes sabem ou podem escrever. The Dangerous Lives of Altar Boys (piedade para o tradutor que ainda virá) é mais um exemplar do cinema independente que se volta para o interior dos Estados Unidos em busca de histórias simples. Narra as aventuras de quatro amigos pré-adolescentes (na verdade, dois amigos e dois colegas destes amigos) entre o colégio e o que há além dele. Garotos que começam a crescer e enfrentar o que a vida apresenta, enquanto se divertem aprontando por aí.

Os quatro se imaginam super-heróis. Cada um desenha sua aparência fantástica e traça a personalidade e as habilidades especiais do personagem que toma para si. O diretor materializa a fantasia com inserções em animação das aventuras do grupo, que escolhem como rival a professora-freira, vivida por Jodie Foster. A brincadeira funciona em parte, mas não se sustenta quando passa a metaforizar os dramas vividos pelos garotos no celulóide. No entanto, a delicadeza evidente no tratamento dado ao roteiro faz com que o texto fuja dos lugares-comuns (exceto no passado excessivo criado para Jena Malone) para transcender o estigma de filme sobre adolescentes.

A melhor trilha sonora do ano embala o sofrimento do rito de passagem: verdades e mentiras, segredos e fofocas, decisões e indefinições, amadurecimento e infância; todos os capítulos da época das incertezas. O jovem protagonista surpreende com sua interpretação, mas o personagem mais cativante nos é entregue pelo cada vez melhor Kieran Culkin, que, em agonia secreta, guarda toda a beleza e a tristeza de uma idade onde é preciso sacrificar a própria pureza para conseguir passar a próxima fase do jogo.

THE DANGEROUS LIVES OF ALTAR BOYS
The Dangerous Lives of Altar Boys, Estados Unidos, 2003.

Direção: Peter Care.

Roteiro: Jeff Stockwell e Michael Petroni, baseados no livro de Chris Fuhrman.

Elenco: Emile Hirsch, Kieran Culkin, Jodie Foster, Vincent D’Onofrio, Jena Malone, Jake Richardson, Tyler Long, Arthur Bridges, Scott Simpson.

Fotografia: Lance Acord. Montagem: Chris Peppe. Direção de Arte: Gideon Ponte. Música: Marco Beltrami (e Joshua Homme). Figurinos: Marie France. Produção: Jodie Foster, Meg LeFauve e Jay Shapiro.

nas picapes: There She Goes, The La’s.

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