Mommy

Xavier Dolan dirige compulsivamente há seis anos. Já tem cinco longa-metragens, mas ainda não conseguiu amadurecer seu cinema. Talvez porque a maior marca deste cinema seja uma suposta jovialidade que justifica o comportamento impulsivo, quase descontrolado de seus personagens. Mais do que isso, a juventude que ele acreditar florescer em seus filmes ou que, em outra via, parece ser de onde seus filmes nascem, é o álibi para que Dolan cometa um cinema de excessos, sob a égide de estar verdadeiramente furioso com o mundo. Mas, mesmo que Mommy represente um passo à frente em sua mise-en-scène, a obra do jovem diretor canadense ainda parece birra de adolescente irritado com os pais.

E este novo filme retoma esse rancor juvenil. Em sua proposta inicial, Mommy parece uma refilmagem mais elaborada do longa teen Eu Matei Minha Mãe, estreia do cineasta. Aliás, um remake com direito de resposta. Temos a relação filho x mãe mais uma vez no centro da trama, mas agora Dolan se permite humanizar a personagem feminina, que assume o protagonismo da história e, basicamente, é uma “mulher complicada que ama o filho sobre todas as coisas”. Humanizar, na versão do cineasta, significa apresentar a mãe como uma versão mais crua do filho. Resumindo: a personagem de Anne Dorval, cover canadense da Luciana Gimenez, atriz esforçada, leva a culpa pela herança de perturbações que imputou ao filho.

A homossexualidade, centro da polêmica do primeiro filme do diretor, não aparece aqui, mas é como se estivesse metamorfoseada no comportamento psicótico do adolescente. Dolan parece ainda não ter expurgado os conflitos que teve com a mãe e quer resolvê-los no cinema. A questão é que esta relação problemática não encontra embasamento psicológico nos filmes que ele faz como o cineasta pretende. Dolan “resolve” suas tramas com base em truques de roteiro ou soluções fáceis, que não convencem muito, mas provocam alguma identificação, o que explica a popularidade de seu cinema. A impulsividade das personagens, a liberdade com que elas agem, sua verborragia são vendidas como manifestações genuínas. A revolta de Dolan justifica tudo. Inclusive as tolices.

No Festival de Cannes, o diretor dividiu o prêmio do júri com Jean-Luc Godard. Este, sim, um homem verdadeiramente furioso com o mundo. Tão furioso que desconstruiu o cinema para provar sua raiva.

Mommy EstrelinhaEstrelinha
[Mommy, Xavier Dolan, 2014]

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