[mostra de cinema de são paulo – boletim dez]
[candy ]
direção: Neil Armfield.
Candy, 2006. Um filme que sobrevive muito do talento de Heath Ledger, que se firma como bom ator. A história é sobre as agruras de um casal junkie com todos os clichês das histórias sobre um casal junkie. É bem cuidadinho, tem bons coadjuvantes e uma dupla central bem à vontade, mas, apesar do texto absorver bem a poesia do protagonista, nunca tem nada de novo a oferecer. Perdida no meio disso tudo, uma cena bem forte, quase assustadora, num hospital.
Com Heath Ledger, Abbie Cornish, Geoffrey Rush, Noni Hazlehurst, Tony Martin.
[still life ]
direção: Jia Zhang-Ke.
Still Life, 2006. Na China atual, muita gente vaga em busca de se reconstruir. Então, não é tão irônico que uma dessas pessoas, o protagonista de Still Life, seja um homem pago para demolir? Em sua busca pela ex-esposa e pela filha que mal conheceu, ele tenta colocar de pé o que restou de sua humanidade. No caminho, nos ajuda a entender que a China é um país extremamente cruel com seu povo, que vive na miséria à margem da revolução econômica e tecnológica que é o cartão postal do país. Um belo filme cuja projeção tosca deixou menor. Embora o trabalho de fotografia não chegue aos pés dos outros filmes do diretor, há alguns achados. E Zhang-ke é um encenador de primeira (o menino cantor é uma das melhores coisas desta Mostra), sabe exatamente onde colocar cada elemento, onde posicionar a câmera e quando fazer uma nave levantar vôo.
Com Zhao Tao, Han Sanmig.
[histórias tenebrosas ]
direção: Richard Oswald.
Unheimliche Geschichten, 1919. Curiosa coleção de história de terror do cinema mudo alemão, com os mesmos três atores principais dando vida a textos de diferentes atores. Os dois homens – um deles Conrad Veidt, que viria a se tornar o Caligari – são excelentes. Embora já haja um bom trabalho de iluminação, a câmera ainda é muito fixa e o teatro se faz presente. Os dois primeiros episódios são os mais fracos. O Gato Preto, de Edgar Allan Poe, e O Clube dos Suicidas, de Robert Louis Stevenson, ganharam versões deliciosas. Curiosamente, é o último conto, escrito pelo próprio Richard Oswald, que flerta bastante com a comédia, o mais bem resolvido de todos. O acompanhamento musical ao vivo, e de improviso, a princípio não parecia adequado, mas foi ficando bastante feliz ao longo da sessão.
Com Anita Berber, Conrad Veidt, Reinhold Schünzel, Hugo Döblin, Paul Morgan.
[half moon ]
direção: Bahman Ghobadi.
Niwe Mung, 2006. Durante boa parte, é uma comédia com excelentes momentos de crítica às instituições. Parecia ser o melhor filme de Ghobadi, que, simpaticíssimo, apresentou a sessão. Parecia justamente porque parecia ser seu filme com menos trejeitos de pequenas e belas histórias tristes. Mas o tom do longa muda bastante com o passar do tempo, alternando alguns momentos inspiradíssimos e outros em que o diretor parece apenas se repetir. Um filme para se pensar mais. Com um final surpreendente.
Com Ismail Ghaffari, Allah Morad Rashtiani, Farzin Sabooni, Kambiz Arshi, Sadiq Behzadpoor.
Marfil, eu vi o filme ao lado do Michel.
Chico: Finalmente achei vc ontem! No “Still Life”…Ia falar contigo no fim da sessão, mas eis que vc sumiu! Ainda não sei o que dizer sobre “Still Life”. Queria gostar do filme, entender todas as passagens subliminares, mas achei o filme um tanto chato…Quem sabe quando eu assisti-lo numa projeção menos tosca, eu me apaixone mais com o projeto dele…