Mostra de Cinema 2004, dia 6:

Zatoichi e a certeza de que Kitano é um grande cineasta

Herencia , de Paula Hernández.

(idem, Argentina, 2001)

Filme visto para cumprir tabela que se revelou bem melhor que a encomenda. Dois estrangeiros em Buenos Aires: solidão, identificação. O longa de Paula Hernández é sobre reconhecer-se no outro, diferente na origem, na idade, nos interesses. E a diretora é delicada ao tratar a questão. Ótima Rita Cortese. Mais um ponto para a Argentina.

Tartarugas Podem Voar , de Bahman Ghobadi.

(Lakposhta Ham Parvaz Mikonand, Irã/Afeganistão, 2004)

Melhor filme de Ghobadi, que volta a enxergar o mundo pelo ponto de vista das crianças, que comandam a ação em seu primeiro longa. Uma visão realmente original sobre o caos no Oriente Médio. Ghobadi não tem medo de abrir as feridas, de mostrar crianças aleijadas no corpo e na cabeça. Consegue momento realmente bonitos quando, como disse meu amigo Guilherme, faz seu Sattellite incorporar um ar de Peter Pan. Tanto seu protagonista quanto seu assistente chorão são impagáveis.

Whisky , de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll.

(idem, Uruguai/Alemanha/Argentina, 2003)

Havia uma fábrica de meias, bem pequena. O dono era um solteirão, já na casa dos cinqüenta e tantos. A visita de seu irmão bem-sucedido faz com que ele engula seu orgulho e peça para uma funcionária se passar por sua esposa. O mote simples poderia render uma comediazinha daquela que os atores e atrizes já quase velhinhos de Hollywood fazem para mostrar que ainda encontram bons papéis. E cujo fim anuncia a redenção tão esperada pelo cinema fácil. Basta descer a linha do Equador para que dois diretores consigam transportar essa proposta num belíssimo exemplo de como a falta de comunicação (ou pior, da incapacidade de se comunicar) empaca uma vida. Whisky mostra personagens críveis, presos a correntes invisíveis que fazem um barulho danado. E tem a melhor atriz da mostra, talvez.

Zatoichi , de Takeshi Kitano.

(idem, Japão, 2004)

O Clint Eastwood japonês se reinventa a cada filme. Depois de reconstruir histórias de amor do teatro japonês para o cinema no magnífico Dolls (2002), o cineasta invade o mundo de ronins e samurais num filme que aparenta despretensão, mas se revela muito mais rico. Ao mesmo tempo em que resgata as histórias épicas de seu país, Kitano faz uma homenagem aos musicais norte-americanos. São várias as cenas em que o diretor promove balés ao som da espetacular trilha sonora (com elementos eletrônicos que parecem reproduzir o som do que está na tela. A fotografia, assinada pelo próprio Kitano, tem tons pouco vivos provavelmente para incorporar melhor os muitos efeitos digitais que rebuscam as cenas de luta. A câmera rápida e montagem, mais ágil ainda são complementares. E há muito sangue. No meio de toda a violência, há espaço para cenas de humor, muitas vezes protagonizadas por Beat Takeshi, seu alter ego ator, e para a revelação de que Kitano ainda é o homem sensível de sempre, abordando num cenário como este temas tão delicados quanto homossexualidade e pedofilia.

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