Começam hoje meus boletins diários da Mostra de Cinema de São Paulo:

Philippe Garrel

A Fronteira da Alvorada EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Philippe Garrel

Parece um filme sobre a sucessividade dos afetos, mas o diretor lança um olhar fantástico (e numa cena chave até macabro) sobre as sobras de um amor. Sofre e fatura com os ecos de Amantes Constantes, do qual é um equivalente formal e estético sem o contexto histórico. A imagem em p&b, como no longa anterior, parece jogar o filme no passado, mas esta opção retrô perpassa tudo, desde objetos de cena até o modo de se vestir e a maneira como os personagens agem. O próprio Louis Garrel parece orientado a reprisar seu personagem.

Marco Becchis

Terra Vermelha EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Marco Becchis

Estranhamente terminei gostando de Terra Vermelha. Estranhamente porque, apesar de ter um perfil de cinema globalizado (diretor italiano filmando índios brasileiros, corais em latim no meio da floresta, sotaques a rodo, perfil maniqueísta do homem branco, câmera cloverfield para momentos tensos), Bechis consegue, de uma forma ou de outra, apresentar bem mais questões acerca dos índios do que se poderia esperar. A forma como ele trata o conflito dos índios com sua própria cultura deixa as obviedades bem menores.

Jonathan Demme

O Casamento de Rachel EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Jonathan Demme

Surpreendente retorno de Demme, que invade a seara familiar promovendo a melhor DR que o cinema viu nos últimos anos. Anne Hathaway, cotadinha para o Oscar, faz o diabo com sua personagem que deu uma pausa no rehab para ir ao casório da irmã. O ótimo roteiro da filha de Sidney Lumet trata de inúmeras questões de família sem se render a lugares comuns, com uma velocidade totalmente própria e com soluções simples e inesperadas. Demme escolhe a câmera na mão, o que poderia estragar tudo, mas a fotografia se justifica sempre, como em Half Nelson (a personagem de Anne tem um quê de Ryan Gosling naquele filme). Rosemary DeWitt, a Rachel, também é ótima (e também pode ser lembrada no Oscar, assim como a mãe vivida por Debra Winger – mas aí já seria uma indicação mais pelo comeback do que outra coisa).

Michel Gondry

Rebobine, Por Favor EstrelinhaEstrelinha, de Michel Gondry

Com uma ajuda, Michel Gondry faz um belo filme (como é o caso de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, co-escrito por Charlie Kaufman). Sozinho, ele se mostra bastante limitado (basta ver Sonhando Acordado). Por isso, Rebobine, Por Favor é um alívio. Ele é quase tão oco quanto o longa anterior do diretor, mas consegue ser muito simpático sem medo de ser ridículo, transformando a experiência de assistir ao filme em diversão. Mos Def e Jack Black, ambos no timing perfeito, catapultam a brincadeira. Algumas das cenas de suecagem dos clássicos (Os Caça-Fantasmas, por exemplo) são deliciosas.

Comentários

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3 comentários sobre “Mostra SP 2008: boletim 1”

  1. TERRA VERMELHA e CASAMENTO DE RACHEL foram os filmes que mais gostei até agora. Embora os Coen e os Dardenne não façam feio. FRONTEIRA DA ALVORADA, vejo hoje. E, dica… IL DIVO é um grande filme… Muito criativo

  2. Pelo menos dois filmes que quero muito assistir: Terra Vermelha e O Casamento de Rachel … quanto ao do Garrel, ainda não conheço a obra do diretor, ainda não vi Amantes Constantes …

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