Politécnica
Polytecnique, Dennis Villeneuve, 2009
Apesar da semelhança temática, este filme não tem nada a ver com Elefante, de Gus Van Sant. Mesmo assim é uma porrada, filmada com uma delicadeza absurda. Dennis Villeneuve aposta num tom que fica entre o diário e o documental para recriar o massacre de estudantes do sexo femininino na Escola Politécnica de Montreal. E mesmo tendo um filme sob as bençãos das famílias das vítimas, o que parece bastante perigoso, acerta em praticamente tudo: no preto-e-branco, na narração que dá vez e voz ao assassino ao invés de simplesmente condená-lo, na estrutura que acompanha os personagens pós-evento antes de que o evento em si seja mostrado por completo e, sobretudo na melancolia sem excessos que parece o olhar perplexo do diretor para um mundo que ainda o decepciona.
Uma Carta para Elia
A Letter to Elia, Martin Scoresese e Kent Jones, 2010
O maior trunfo e a maior fragilidade de Uma Carta para Elia vêm do fato do filme ser tão reverente a seu homenageado. Martin Scorsese, mesmo com a coassinatura de Kent Jones, faz cinema em primeira pessoa: este documentário é nada mais do que declaração de amor, uma ode ao cineasta Elia Kazan, um diretor gigante e uma personalidade polêmica. Scorsese parece querer corrigir o fato de que Kazan seja tão lembrado por suas delações ao macarthismo quanto por seus filmes. Para isso, aproxima seu texto do peito e convida o espectador a enxergar os filmes de Kazan pelos olhos de um jovem apaixonado que reconhece na tela o mundo a sua volta. Scorsese não esconde sua devoção ao passear pela vida e pela obra de seu retratado. Estudioso do cinema, enche o doc com informações e análises sobre cada um dos filmes do diretor. O resultado é um filme do coração, com todos os prós e contras que isso possa gerar.
O Garoto de Liverpool
Nowhere Boy, Sam Taylor-Wood, 2009
Os Beatles provocam tanta devoção que um filme sobre a adolescência de John Lennon só poderia assumir o formato absolutamente convencional que a diretora Sam Taylor-Wood atribuiu a O Garoto de Liverpool. Mas, se não ousa sob nenhum aspecto, a cineasta acerta – e bastante – na execução da novelinha que resolveu contar. O filme trabalha os clichês da história com muita habilidade e conseguiu uma delicadeza comovente ao apresentar a relação conflituosa entre Lennon e sua mãe Julia. Anne-Marie Duff e Kristin Scott-Thomas entregam interpretações belíssimas.
Submarino
Submarino, Thomas Vintenberg, 2010
A verdade é que, desde Festa de Família, seu primeiro, mais impetuoso e mais completo filme, Thomas Vintenberg nunca mais apresentou um trabalho com um conjunto tão forte. Submarino é uma experiência dramática bem mais refinada do que seus últimos filmes, mas o diretor ainda se perde em excessos estilísticos, como no flashback de abertura, e desvios que enfraquecem a trama principal, como a história do coadjuvante psicótico, ruim, clichê. Quando elege o que é importante, geralmente se dá melhor.
Howl
Howl, Rob Epstein e Jeffrey Friedman, 2010
Eu duvidei de Howl nos primeiros vinte minutos de projeção. A primeira impressão é de um filme afetado, que experimenta formatos sem qualquer preocupação com a unidade ou o conteúdo. Mas, aos poucos, a experiência de Rob Epstein e Jeffrey Friedman como documentaristas parece encontrar uma linha narrativa múltipla que, se não é brilhante, funciona com uma graça estranha, uma reverência ao segundo plano, uma melodia tímida que captura o espírito mind free, confuso e adolescente de Allen Ginsberg, de seu poema Uivo e da época em que ele viveu numa mistura ora anárquica, ora banal de documentário, ficção e animação.
A Última Estação
The Last Station, Michael Hoffman, 2009
Helen Mirren está na minha lista de maiores atrizes da atualidade e aqui ela dá vários motivos para eu não mudar de ideia, embora o crescendo de A Última Estação, que começa com frescor, achate sua interpretação. O filme, aos poucos, passa de um registro curioso sobre os últimos meses de vida de Lev Tolstoy para um novelão que não faz jus ao autor. Christopher Plummer, que sempre foi um ator limitado, aqui tem um dos highlights de sua carreira. Mas James McAvoy é quem mais impressiona com seu sensível anti-protagonista que tem pelo menos duas cenas lindas: o encontro emocionado com o escritor e a primeira vez com uma mulher. Embora termine banalizado, o filme de Michael Hoffmann tem seus momentos. Ah, a trilha é linda, linda, mas é usada em excesso.
Todos os filmes vistos na Mostra SP 2010
mais Mostra SP:
– Indicados ao Oscar de filme estrangeiro na Mostra SP
– Metrópolis, de Fritz Lang, restaurado, exibido de graça
– Top 20 Mostra SP 2009
não que não tenha tido bons posts das mostras do rj e sp, mas aguardo ansiosamente o retorno dos ‘posts livres’