[Exit Through the Gift Shop, Banksy, 2010]
Este é um daqueles projetos que extrapolam o cinema e se tornam eventos, como A Bruxa de Blair. Banksy é um artista plástico de rua que ficou conhecido pelo talento inegável e pelo mistério em torno de sua figura. Ninguém vê seu rosto, ele não dá entrevistas. Neste suposto documentário, Banksy assume a função de cineasta para apresentar outro artista, que começou como seu “roadie” e que teria se tornado “maior” do que ele. Ao que tudo indica, a criatura é fake, assim como o documentário, o que só instiga o interesse. O filme, que pode ser apenas um veículo para promovê-lo, tem o mérito de ir além do registro: brincadeira ou golpe de marketing, o filme é uma diversão inteligente, que ironiza o mercado da arte à mesma medida que exalta os artistas de rua. Mas está longe da obra-prima que se pinta.
[My Perestroika, Robin Hessman, 2010]
O filme de Robin Hessman fala da história da Rússia dos últimos 30, 40 anos a partir dos depoimentos de três personagens que viveram os anos finais do regime soviético e a ascenção de Gorbachev ao poder. O maior acerto da diretora é, em vez de usar as histórias para montar um painel de época, mostrar os impactos particulares do modelo soviético na vida de cada um dos personagens, fazendo jus ao título. O formato, embora seja bastante formal, evita uma tendência atual do cinema documental de querer dar pareceres finais sobre grandes questões. Hessman só interessa pelos indivíduos e por sua visão sobre o que viveram, o que deixa seu filme bem mais próximo de quem o assiste.
[Filme do Desassossego, João Botelho, 2010]
Adaptar poesia para o cinema nunca é fácil, ainda mais quando o autor em questão é Fernando Pessoa. O diretor João Botelho foi radical: fez um filme a partir do texto do Livro do Desassossego, criando um fiapo de história para justificar a declamação dos poemas. O resultado tem mais baixos que altos. Os momentos mais interessantes são aqueles em que Botelho se livra da narrativa e parte para a invenção, criando cenas soltas, quase sketches ou instalações, muitas delas musicais. Mesmo assim, a encenação do diretor é precária e vem embalada num visual kitsch que inclui muito laquê e maquiagem pesada e está mais para a lamentável cinebio de Amália Rodrigues do que para o cinema de João Pedro Rodrigues.
[Ex Isto, Cao Guimarães, 2010]
Em seus 20 minutos finais, Ex Isto fica girando em volta do próprio umbigo, fazendo referências ao cinema brasileiro de invenção dos anos 60 e 70, mas o filme é bem mais do que isso. Cao Guimarães parte de uma proposta interessante: a vinda fictícia de Rene Descartes ao Brasil junto com Maurício de Nassau. Utilizando o texto de Paulo Leminski como base, o diretor lança João Miguel numa viagem de confronto com o desconhecido. Há cenas impressionantes como a filmada durante a pororoca e a visita do ator, travestido de Nassau, à rodoviária, ao som de Lady Gaga.
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Vai que você gosta…
Puts, e vejo ‘Filme do desassossego’ hoje…