O AMOR CUSTA CARO

Há exatos vinte anos, dois irmãos resolveram estrear juntos no cinema. Joel e Ethan Coen levaram às telas o hoje cult Gosto de Sangue e entraram para a história do cinema indie norte-americano. Despreocupados com exigências de mercado, sempre tiveram resultados acima da média. Vieram comédia malucas (Arizona Nunca Mais, 87), noirs sofisticados (Barton Fink, 90) e filmes recheados de humor negro (Fargo, 96). O grande público nunca foi o alvo ou a intenção da dupla, que nunca deixou de atrair nomes famosos para o elenco de seus longas. George Clooney, por exemplo, foi o protagonista de E Aí Meu Irmão, Cadê Você (00), brincadeira deliciosa com as comédias burlescas dos anos 30.

Outra parceria com Clooney marca justamente o primeiro namoro sério dos irmãos Coen com o cinema mais comercial. O Amor Custa Caro, embora apresente um roteiro de fácil apelo popular, está longe de ser um filme feito para fazer dinheiro. Inspirado nas comédias de gata e rato estreladas por Cary Grant e Katherine Hepburn (ou pela senhora Hepburn e mais alguém), o longa mostra a história de idas e vindas entre o esperto advogado vivido por Clooney (incrivelmente imbuído do espírito de Grant) e uma (surpreendentemente boa) Catherine Zeta-Jones, cada vez mais bonita, na pele de uma caçadora de fortunas de ex-maridos.

As referências às comédias antigas conseguem ser incorporadas com eficácia ao humor mais atual, diferentemente do que acontece com Abaixo o Amor, que parece perdido no tempo. A principal diferença entre O Amor Custa Caro e os filmes que guardam semelhanças com ele é o texto, deliciosamente bem escrito e com reviravoltas bem estruturadas (contra a bobagem Bem Me Quer, Mal Me Quer). Outro ponto a favor é que todo mundo parece estar se divertindo tanto na tela que fica impossível não entrar no mesmo barco. O flerte do Coen com o cinema mais comercial teve bons resultados: atores mais caros e uma produção mais farta entrou em cena. A seqüência de abertura, muito boa, denuncia o que vem por aí: uma brincadeira entre os limites do que é inteligente e do que é popular.

O Amor Custa Caro
Intolerable Cruelty, EUA, 2003.
Direção: Joel Coen.
Elenco: George Clooney, Catherine Zeta-Jones, Billy Bob Thornton, Geoffrey Rush, Cedric the Entertainer, Edward Herrmann, Paul Adelstein, Richard Jenkins, Julia Duffy, Jonathan Hadary, Tom Aldredge, Stacey Travis, Jack Kyle, Irwin Keyes.
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Robert Ramsey e Matthew Stone, baseado em história de Ramsey, Stone e John Romano. Produção: Ethan Coen e Brian Grazer. Música: Carter Burwell. Fotografia: Roger Deakins. Edição: Roderick Jaynes (Joel e Ethan Coen). Direção de Arte: Leslie McDonald. Figurinos: Mary Zophres.

Comentários

comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *