O MUNDO… PERDIDO.
Uma onda gigantesca acaba de levar a minha criatividade para um subtítulo

Existe uma lógica pouco lógica nos filmes-catástrofe. Eles passeiam entre o objetivo de envolver o espectador fazendo-o acreditar que o drama vivido pelos personagens da tela pode também ser o seu e a criação pura e simples de seqüências de ação que proporcionem o deleite com a fantasia. Há mais mistério entre a tragédia e a aventura do que possam supor os criadores destes produtos. O filme-catástrofe fascina, embora muitas vezes seus roteiristas pequem pelo tratamento rarefeito dado aos textos, o que, em quase todas as últimas investidas no gênero, tem resultado em filmes catastróficos.

O Dia Depois de Amanhã, a mais recente (mas não derradeira) tentativa de encher cofres às custas de desastres, coloca o holandês despatriado Roland Emmerich mais uma vez no piloto de uma aventura de proporções planetárias – a última vez foi com o esquecível e, se a gente pensar bem, esquecido Independence Day (96). O roteiro, escrito pelo próprio diretor, mergulha e acelera nas teorias sobre o aquecimento global e o derretimento das calotas polares, o que provoca, você sabe, uma onda de destruição pelo planeta. Justificativa perfeita para os milhões de dólares gastos nos efeitos visuais do filme.

Catástrofe escolhida, pouco a acrescentar. Emmerich saca do bolso a cartilha dos longas do gênero e escolhe seu herói, cercando-o dos coadjuvantes padrão, que preenchem todas as formas (fôrmas e não fórmas) de personagens deste tipo de filme. A primeira hora do filme é reservada para a exibição da tecnologia: ondas gigantes e tornados furiosos deliciosos. Na segunda hora, o que conta é a reprodução da fórmula de missão do protagonista. Tudo muito corretinho, com piadinhas, sacrifícios e mais algumas boas cenas de destruição, com todas aquelas pequenas atrocidades à lógica que a gente perdoa.

Não. Eu não vou discutir a incoerência ética da filmografia o diretor, muito menos compará-lo a ativistas políticos em voga no cinema atual. Também não parece relevante investigar a moda ou a saída politicamente correta de alfinetar os Estados Unidos. Por fim, não vejo problema de ter histórias padrões e personagens clichês se eles cumprem seu papel. Acho bobagem questionar a verossimilhança de qualquer coisa que seja num filme deste tipo. Ou cobrar diálogos mais significativos. Por mais que tente parecer (e ele tenta) um filme engajado, com preocupações sócio-ambientais, O Dia Depois de Amanhã segue com muito prazer, sua sina para o entretenimento. Pena que não morra tanta gente assim…

O DIA DEPOIS DE AMANHÃ

The Day After Tomorrow, EUA, 2004.
Direção: Roland Emmerich.
Roteiro: Roland Emmerich e Jeffrey Nachmanoff.
Elenco: Dennis Quaid, Jake Gyllenhaal, Emmy Rossum, Dash Mihok, Jay O. Sanders, Sela Ward, Austin Nichols, Arjay Smith, Tamlyn Tomita, Sasha Roiz, Ian Holm, Robin Wilcock, Jason Blicker, Kenneth Moskow, Tim Hamaguchi, Glenn Plummer, Adrian Lester, Richard McMillan, Nestor Serrano, Perry King, Mimi Kuzyk.
Fotografia: Ueli Steiger (e Anna Foerster). Montagem: David Brenner. Direção de Arte: Barry Chusid. Música: Harald Kloser (com música adicional de Thomas Wanker.. Figurinos: Renée April. Produção: Roland Emmerich e Mark Gordon.

nas picapes: It’s The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine), REM.

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