AS INVASÕES BÁRBARAS
O poema de Homero perde a benção divina e vira filme de estrelas

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história que um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

(Otacílio e Zé Ramalho)

Tirando o fato de que seus protagonistas resolveram tirar férias da arte de interpretar justamente durante a gravação das cenas do filme, Tróia até que tem seus bons momentos. A luta que abre o filme é empolgante, com um salto fatal provavelmente ajudado pelos computadores. Cortesia de Wolfgang Petersen, que já foi muito melhor antes de se entregar à máquina hollywoodiana (O Barco, 82, é um filme excepcional). Nesta megaprodução de batalhas sanguinárias (poderiam ser bem mais pelo que eu li sobre a época), o mais legal mesmo é a ação.

Petersen tenta dar credibilidade ao filme com seus coadjuvantes de luxo. Peter O’Toole, bem desgastado pelo tempo, consegue a melhor cena do filme, quando o rei Príamo vai reclamar pelo corpo do filho morto. Cena que ficaria bem melhor caso Brad Pitt estivesse bem dirigido e disposto a interpretar. Dos protagonistas, apenas Eric Bana está bem. E só. Orlando Bloom é bem fraquinho, mas nesta área perde feio para Diane Kruger. A mulher mais linda do mundo é linda mesmo, mas não tem um sopro de talento dramático. Julie Christie faz uma ponta boba e sem motivo. Brian Cox, no entanto, mesmo caricato com seu Agamenon, dá um banho nos colegas de elenco.

A Ilíada, que ajudou a criar os princípios da cultura grega, foi pro brejo no roteiro “humanizado” do filme, que reserva aos deuses papéis sem rosto na trama: eles só aparecem nas citações, algumas vezes até atéias, dos personagens. Como o poema épico de Homero é a única fonte possível (até hoje) para a história que se vê na tela, dizimar a interferência divina na Guerra de Tróia parece blasfêmia das mais graves. Se nem as divindades resistem à tesoura do mercado, o que dizer do romance entre Aquiles e Pátroclo ou mesmo a duração original da guerra (dez anos que viraram doze dias)? Mesmo assim, Tróia ainda é grande demais para um filme com pouco a dizer.

TRÓIA
Troy, EUA, 2004.
Direção Wolfgang Petersen.
Roteiro: David Benioff, inspirado no poema épico A Ilíada, de Homero.
Elenco: Brad Pitt, Eric Bana, Orlando Bloom, Brian Cox, Brendan Gleeson, Sean Bean, Peter O’Toole, Diane Kruger, Julie Christie, Rose Byrne, Saffron Burrows, Nigel Terry, Tyler Mane, Garrett Hedlund, Jacob Smith, John Shrapnel.
Fotografia: Roger Pratt. Montagem: Peter Honess. Direção de Arte: Nigel Phelps. Música: James Horner (e a canção Remember Me). Figurinos: Bob Ringwood. Produção: Wolfgang Petersen, Diana Rathbun e Colin Wilson.

nas picapes: Mulher Nova Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, Amelinha.

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