Nasce um monstro

Na década de 50, a Universal inaugurou uma nova série de monstros. Os estúdios que deram vida a Drácula e Frankenstein, para ficar apenas nos mais famosos, queriam reciclar seu cartel de criaturas, criando seres que assustassem mais o público “moderno”. O monstro escolhido para estrear essa nova fase veio justamente do Brasil. A história de O Monstro da Lagoa Negra se passa no meio da Amazônia e, apesar de nenhum integrante da equipe do filme ter pisado em solo brasileiro, o longa revela um cuidado com a verossimilhança bem grande, quase exagerado.

O texto procura demonstrar rigor científico na identificação de espécies, na relativamente bem sucedida escolha das locações (os pântanos da Flórida parecem muito os pântanos da Flórida), no acompanhamento das pesquisas. Muita coisa ficou velha no filme, mas a essência, cinqüenta anos depois, é a de uma obra moderna. Provavelmente quem mais contribuiu para isso foi o diretor escolhido para comandar O Monstro da Lagoa Negra. Jack Arnold, um dos mais geniais autores dos filmes b que o cinema já teve, era um autor sempre atento a sua época.

No esforço para dar credibilidade à história que contava, Arnold fez um filme de respeito, que revela um homem muito apaixonado por sua profissão. E a paixão saiu melhor que a encomenda porque, mesmo com um elenco medíocre, Arnold conseguiu um apuro estético de causar inveja até a filmes modernos. A qualidade da fotografia subaquática realmente impressiona: além de eficiência para mostrar o “underwater”, consegue criar imagens muito bonitas, quase poéticas. Jack Arnold, que três anos depois faria a obra-prima O Incrível Homem que Encolheu, imprime ecos de King King (Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, 1933) a seu filme, o que dá mais uma dimensão à história. Um filme literalmente fantástico.

O MONSTRO DA LAGOA NEGRA
Creature of the Black Lagoon, Estados Unidos, 1954.
Direção: Jack Arnold.
Roteiro: Harry Essex, a partir da história de Arthur A. Ross e Maurice Zimm.
Elenco: Richard Carlson, Julia Adams, Richard Denning, Antonio Moreno, Nestor Paiva, Whit Bissell, Bernie Gozier, Henry A. Escalante, Ricou Browning, Ben Chapman, Perry Lopez, Sydney Mason, Rodd Redwing.
Fotografia: Willaim E. Snyder. Direção de Arte: Hilyard Brown e Bernard Herzbrun. Música: Henry Mancini, Herman Stein e Hans J. Salter (todos sem crédito). Montagem: Ted J. Kent. Figurinos: Rosemary Odell. Produção: William Alland.

rodapé: este filme faz parte de uma coleção de DVDs que resgata os maiores filmes de monstros da Universal. Numa muito bem-vinda promoção, terminei comprando seis títulos deste catálogo.

nas picapes: Build (po-po-papel), Housemartins.

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