Selton Mello, Paulo José

É difícil falar com propriedade sobre algo que você ama demais, correndo o risco de ser parcial, mas poucos filmes que eu vi em 2011 mexeram tanto comigo como O Palhaço. A história do homem em conflito que tenta buscar direção e sentido para sua vida é filmada com uma melodia melancólica que arrasta os personagens e move a trama. Desde que a trilha sonora de Plínio Profeta se revelou nos minutos iniciais do filme, eu já sabia que meu destino estava selado.

A música estabelece exatamente o que Selton Mello pretende para o longa: o encontro entre o autoral e o popular. Isto está no tema, na trilha e na maneira de filmar. Está na concepção do elenco como um grupo. Está nos movimentos de câmera cuidadosos, na direção de arte caprichada e nas participações carinhosas. Selton enche o filme delas, de Fabiana Karla a Ferrugem, passando pelo irmão do diretor, Danton Mello, mas faz valer cada uma. A cena de Moacyr Franco é a melhor.

Ele tira nosso fôlego como o delegado Justo, que tem que sair de casa para “receber” o grupo de artistas do circo presos numa confusão. O personagem dispara a história trágica de seu gato Lincoln num discurso hilariante e tão veloz, que rouba do espectador a possibilidade de piscar ou respirar. A atuação blasé de Franco e o texto absurdo casam direitinho.  A cena é um respiro na melancolia que impera no filme.

O longa tenta buscar o meio do caminho entre a herança e a missão, entre o ser e o dever. E, nessa jornada, encontra a sensibilidade sem se esforçar muito. O diretor tinha enganado a gente com sua estreia, Feliz Natal, um filme visualmente bonito, rigoroso e afetado. O cineasta que ele escondia é esse aqui que dirigiu ‎O Palhaço, uma pequena obra-prima, o melhor filme do ano. É impossível não parir adjetivos. Selton comanda o filme como quem embala um filho, com amor mesmo. O Palhaço é autêntico, doce, sincero. De uma beleza incrível.

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[O Palhaço, Selton Mello, 2011]

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