VIAGEM INSÓLITA

Os defeitos são muitos, mas O Terminal tem um grande mérito: seu diretor

Existe um certo consenso de que O Terminal é um dos desacertos da temporada, quiçá do ano. Um filme que não vai além da exploração do personagem pitoresco em situação pitoresca, que desperdiça uma boa idéia inicial num roteiro com poucas idéias realmente originais ou inteligentes. Mas o longa é bem melhor que as insípidas resenhas escritas sobre ele indicam. Não que isso seja muito. A história do estrangeiro que fica preso por meses no saguão de um aeroporto por causa de uma inesperada despatriação, entre a comédia fácil e o melodrama clássico, consegue resultados corretos na visão de Steven Spielberg.

O diretor se apóia exclusivamente em seu elenco, o que o deixa refém das limitações que registra. Há o protagonista confuso e os coadjuvantes cômicos. Tom Hanks raramente se distancia da caricatura, o que incomoda mortalmente, mas não mais que o visível excesso de maquiagem em algumas seqüências. E os amigos estrangeiros, perigosa conclusão sobre a aproximação de iguais, aparecem sem muita graça no decorrer do filme, apesar de uma exagerada valorização do indiano que já havia dado o ar da graça no excelente Os Excêntricos Tenenbaums (Wes Anderson, 01). O romance com Catherine Zeta-Jones, bobo e pouco envolvente, também não ajuda.

Mas Steven Spielberg, o cineasta tão renegado por sua popularidade, é um ás na capacidade de arrebatamento. Consegue criar cenas tão simples e emocionantes como poucos. A seqüência em que Viktor Navorski aborda a oficial Torres para recolher informações para o colega apaixonado é competentíssima e faz com que os clichês do filme se transformem em boas intenções aos olhos do espectador comum. O Terminal, com todas as suas muitas falhas, é um filme sem grandes ambições. Spielberg, que tantas vezes se quis firmar como cineasta sério, simplesmente reservou um momento para contar uma pequena história. O final cheio de lugares comuns (a revelação do motivo da viagem, a saída triunfal) chegou de uma maneira particularmente especial para mim: foi quando eu lembrei que as emoções básicas, rasas, rasteiras ainda (ou ainda bem) me abalam um bocado. Eu, feliz, me dei conta de que eu sou um espectador comum.

O TERMINAL
The Terminal, EUA, 2004.

Direção Steven Spielberg.

Roteiro: Sacha Gervasi e Jeff Nathanson, baseados na história criada por Gervasi e Andrew Niccol.

Elenco: Tom Hanks, Stanley Tucci, Catherine Zeta-Jones, Diego Luna, Chi McBride, Kumar Pallana, Zoe Saldana, Eddie Jones, Jude Ciccolella, Barry Shabaka Henley, Benny Golson.

Fotografia: Janusz Kaminski. Montagem: Michael Kahn. Direção de Arte: Alex McDowell. Música: John Williams. Figurinos: Mary Zophres (com Mathhew Jerome). Produção: Laurie MacDonald, Walter F. Parkes e Steven Spielberg. Site Oficial: www.theterminal-themovie.com.

nas picapes: Left To My Own Devices, Pet Shop Boys.

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