Há muito, muito tempo a categoria mais concorrida do Oscar não é a de melhor filme. O que, para muitos, é sinal de um ano fraco, na verdade, me parece um dos momentos mais interessantes do prêmio em vários anos. Diferentemente, do ano passado, quando a surpresa aconteceu apenas na abertura do último envelope e o equívoco chamado Crash, de Paul Haggis, venceu, neste ano, o ponto não é uma eventual surpresa, mas o fato de ter chegado a essa altura sem um favorito de verdade.

Resquícios de uma corrida confusa desde o começo. À exceção de A Rainha, todos os outros candidatos a melhor filme já tiveram seu momento frontrunner. Tudo começou com Babel, que depois de ganhar direção em Cannes e de ter suas semelhanças com o vencedor do ano passado ressaltadas, começou a figurar nas especulações. Em seguida, Cartas de Iwo Jima ganha o National Board of Review e vai aparecendo em praticamente todos os prêmios de críticos.

Depois, Pequena Miss Sunshine começa a ganhar perenidade e substância com os resultados dos principais guilds. Por fim, já no derradeiro suspiro da corrida, Os Infiltrados está no topo de praticamente todas as listas de apostas. Na verdade, a única certeza de que se tem é que a Academia vai ter que inventar seu grande vencedor neste ano. Vejamos a lista de indicados por ordem de possibilidades de vitória, segundo minha mais humilde opinião (as estrelas significam minha avaliação pessoal para o filme em cada categoria).

1 Os Infiltrados estrelinha pequenaestrelinha pequenaestrelinha pequenaestrelinha pequena
produzido por Graham King

É minha aposta. No ambiente de confusão instalado, como eleger o melhor? Indo com o maior. Dentre os filmes, Os Infiltrados é o que mais parece grande, épico e é um dos que é assinado por um grande diretor que nunca ganhou um prêmio da Academia mesmo tendo sido finalista uma pá de vezes. O longa tem a seu favor um reforço importantíssimo: Martin Scorsese deve finalmente ganhar seu Oscar de direção e o filme é o favorito absoluto entre os roteiros adaptados. Pronto, seria perfeito, não? O melhor filme do ano teria ganho filme, direção e roteiro. Para o negócio ficar bom mesmo, o filme ainda poderia aparecer no palco em montagem (ou vocês acham que Crash 2 vai ganhar?) e na categoria de ator coadjuvante, que já tá uma bagunça mesmo. É mais difícil, mas não impossível. Muito se fala sobre Os Infiltrados não ser material de Oscar. Sua indicação na categoria principal parecia absurda. Mas, que filme do Scorsese tinha cara de Oscar? Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros? O apoio da crítica carimbou o passaporte e permitiu que a Academia pudesse corrigir sua falta com o diretor.

2 Pequena Miss Sunshine estrelinha pequenaestrelinha pequena
produzido por David T. Friendly, Peter Saraf e Marc Turtletaub

Seria uma alternativa para os acadêmicos, uma “saída pela esquerda”, premiar um filme indie, querido, sair de bonzinhos. Mas, para isso, precisaria ser um vencedor verdadeiramente inventado. Alguém lembrou que Conduzindo Miss Daisy, em 1989, ganhou melhor filme sem ter o diretor indicado, mas, naquele ano, o filme era franco favorito num dos quesitos principais (melhor atriz, que ganhou) e tinha o maior número de indicações, nove. Pequena Miss Sunshine tem só quatro. É bem verdade que deve ganhar roteiro, mas, diga lá, o melhor filme do ano só teria dois prêmios. Qual a última vez que isso aconteceu? A solução, no entanto, é possível. Atacar de Alan Arkin como ator coadjuvante, fazendo as vezes de repescagem de um veterano e/ou eleger Abigail Breslin como atriz coadjuvante, celebrando a criançada. Com quatro prêmios, teríamos um vencedor de bom tamanho, mas será que um filme tão pequeno teria fôlego para tirar 100% de aproveitamento nas indicações?

3 Babel estrelinha pequena
produzido por Alejandro González Iñárritu, Jon Kilik e Steve Golin

É um terceiro caminho. Apostar na “inovação” de texto, direção e montagem, na reunião de nome no elenco, na escalada globalizada, mas Crash, um filme de que este segue o modelo para desespero de seu diretor, já não era “ousado” o suficiente para a Academia mostrar que é moderna (e disfarçar seu preconceito ao não premiar O Segredo de Brokeback Mountain)? O que é que credencia este filme a vencer o posto de melhor do ano? Ele não ganhou nenhum precursor, só ressurgiu no Globo de Ouro, sem vencer, e se manteve apagado nos guilds. Não acho que vão cair na do Iñarritu não, ainda mais com um Scorsese na jogada, mas para isso acontecer, Babel teria que ganhar em roteiro e montagem e, talvez, eleger uma de suas coadjuvantes.

4 Cartas de Iwo Jima estrelinha pequenaestrelinha pequenaestrelinha pequenaestrelinha pequena
produzido por Clint Eastwood, Steven Spielberg e Robert Lorenz

É um belíssimo filme e seria uma séria ameaça se 1) Clint Eastwood não tivesse ganho os dois Oscars principais há dois anos; e 2) não fosse quase que completamente falado em japonês, o que o transformou num filme estrangeiro para alguns prêmios de críticos. O Kris Tapley aposta numa comoção da Academia pela possibilidade ver Eastwood e Steven Spielberg, produtor do filme, no palco, juntos. Acho pura viagem, mas se Cartas de Iwo Jima tem alguma chance de ganhar o Oscar, ela mora mais da confusão do ano do que em seus muitos méritos, escondidos para quem morre de preguiça de ler legendas. Para isso acontecer, ou Clint teria ser eleito melhor diretor, o que resultaria num massacre contra a Academia, ou o roteiro teria que vencer.

5 A Rainha estrelinha pequenaestrelinha pequenaestrelinha pequena
produzido por Andy Harries, Christine Langan e Tracey Seaward

É, na realidade, o único filme sem chances de vitória e, por isso mesmo, se ganhar vai deixar todos boquiabertos. Não há nada no seu histórico de premiações que indique que ele não tenha sido comprado como um belo filme de atriz, de performer. Como só vai ganhar no quesito de atriz e tem chances menores em roteiro e trilha, sua eleição fica inviabilizada.

Comentários

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4 comentários sobre “Oscar 2007 – apostas e perspectivas”

  1. Pelo jeito, fui eu que fiz a aposta mais arriscada… hehe

    E é bizarra mesmo, mas depois de Crash, tudo pode acontecer…

    Em 10 anos, esse negócio de maior número de indicações “influenciou” 7 ganhadores de Melhor Filme (O Paciente Inglês, Titanic, Shakespeare Apaixonado, Beleza Americana, Gladiador, Chicago, O Retorno do Rei). Pode mesmo ser a oportunidade deles voltarem a construir um “grande vencedor” nesta edição, ou algo perto disso pelo menos (já que Departed deve ser o 5º ou o 6º mais indicado e tem só uma vantagem à Miss Sunshine: a indicação a Melhor Montagem).

    Veremos esta noite se “a divida com Scorsese” será paga e com quantos prêmios.

  2. Eu não descarto mesmo uma vitória de “Pequena Miss Sunshine”, mas, para mim, hoje, “Os Infiltrados” tem mais chances, Layo.

    Wallace, eu não vejo o Santaolalla ganhar de novo de jeito nenhum. Além disso, acho aquela trilha de “Babel” incidental demais para ser premiada e fraquinha.

  3. Os Infiltrados ! Os Infiltrados ! Os Infiltrados ! É muito bom saber que as possibilidades de vitória dessa obra-prima de Scorsese só aumentam. Por mais que goste de Babel, torço muito por esse filme. Infelizmente ainda não consegui ver nenhum dos outros indicados. Quanto ao número de prêmios que Babel pode ganhar, acho que, além de filme, roteiro original e montagem, ainda tem trilha. Aliás acho mais provável que o Gustavo Santaollala leve o prêmio de novo do que uma vitória em roteiro original, onde Miss Sunshine deve ganhar.

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