O oco do mundo
A resposta é não.
Provocação é prova cabal de que existe um cinema norte-americano muito interessado em tentar parecer arte misturando sexo + solidão + falta de perspectivas, mas que empaca na imensa ausência de discurso que termina em gratuidade numa dimensão desenvergonhadamente patética. Se a intenção era patetizar, palmas para Jeff Bridges, que nunca foi bom ator mesmo, mas que consegue uma interpretação tão ruim (sob o disfarce de que aquilo é bom, muito bom), que salva o filme do marasmo que impregna o texto, a direção, o elenco apático. O divertido é perceber como o ator consegue afundar mais e mais a cada cena, como se fizesse um elogio ao bizarro. E esqueceram de dar o texto a Kim Basinger ou de mandá-la fazer umas expressões faciais mais diferentezinhas (ah, não, é assim mesmo; ela até ganhou Oscar por fazer… nada!!!).
Mas, pensando bem, será que Provocação seria sobre isso, o nada? Pode até ser. Se for, o diretor Tod Williams, que escreveu a bagaça também (aliás, adaptou do livro daquele cara fraco, John Irving, que escreveu Regras da Vida, Lasse Haarghhhllström, 1999), fez um filme muito bom porque ele é sobre nada que tenta parecer tudo, mas não é nada mesmo. É sobre o vento, o céu, o mar, a Mimi Rogers com uma faca na mão ou a irmãzinha da Dakota Fanning (é mesmo!) como uma psicótica-mirim que não sabe viver sem as fotos dos amados irmãos que nunca conheceu. É a litertura barata metida-a-cabeça norte-americana fielmente traduzida para cinema barato metido-a-cabeça norte-americano. Uma bosta.
PROVOCAÇÃO
The Door in the Floor, Estados Unidos, 2004.
Direção e Roteiro: Tod Williams, baseado em livro de John Irving.
Elenco: Jon Foster, Jeff Bridges, Kim Basinger, Elle Fanning, Larry Pine, John Rothman, Harvey Loomis, Bijou Phillips, Mimi Rogers, Louis Arcella, Tod Harrison Williams, Carter Williams.
Fotografia: Terry Stacey. Montagem: Affonso Gonçalves. Direção de Arte: Thérèse DePrez. Música: Marcelo Zarvos. Figurinos: Eric Daman. Produção: Anne Carey, Michael Corrente e Ted Hope. Site Oficial: Provocação. Duração: 111 min.
Revi e me pareceu menos ruim. Na verdade, para fazer um mea culpa decente, a primeira meia hora do filme é muito boa, com cenas bem feitas (o encontro de Law e Portman, o sexo virtual e o aquário), mas o problema é justamente quando começam a aparecer os problemas. É ali que o texto pretende assumir a condição que narrador da condição humana nos relacionamentos amorosos. É ali que Jude Law se revela muito ruim, Julia Roberts apática, e que Owen e Portman, realmente bem melhor tratados pelo roteiro, se destacam porque ele assume bem o descontrolado inteligente que grunhe e ela, dona de um poder de sedução impressionante, consegue transitar especialmente bem entre o frágil e o lascivo. Mas o filme é o caso típico do texto que se pretende porta-voz, revelador, numa linha olha-o-que-tem-ali-atrás-da-porta. E tem aquela cena das putarias (faladas) que muita gente deve ter achado tão verdadeira – ainda mais que eram putarias ditas com o aval da Julia Roberts… E tem aquele clima de amor e sexo, verdades e mentiras, eu-te-amo-porra. O melhor: as passagens de tempo não são explicadas, não têm limites bem estabelecidos, o espectador é forçado a descobrir quanto tempo se passou, o que aconteceu. Mas isso dura pouco e logo temos que nos ver às voltas, mais uma vez, com aquele texto medíocre. Um filme sobre sexo que não tem sexo.
Agenda filmes do chico: sexta-feira, dia 12, a senhorita Ana Paul no Gosto dos Outros.
nas picapes: The Blower’s daughter, Damian Rice.
Antonio, pode votar, sim.
Pois é, Ana. Aquele filme era (é) bem interessante, sem pudor de ser teatro filmado.
Pois é, Alves.
“mas o problema é justamente quando começam a aparecer os problemas.”
Achei o Close um filme médio bem feito quando vi. Desconfio que vou gostar muito menos se fizer uma revisão porque o filme não tem nada cinematograficamente muito interessante, não é um teatro tão bem filmado quanto o Virginia Woolf, do mesmo Nichols.
Ah, Antonio, eu sempre tento apontar qualidades mesmo em filmes que eu não gosto…
Como é que eu barro essas mensagens-spam?
Real World Austin: Danny Goes Home
Last time on The Real World Austin, Danny’s mom died, and Danny blamed himself .
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Ah, que bom. Você odeia Closer um pouquinho menos e é capaz até de enxergar suas virtudes.
E que pena que Blower´s Daughter não possa ser votada no Alfred. Tirando esta e todas as canções de Team America, só me sobra a dos golfinhos do Guia do Mochileiro (posso votar nessa?).
Abraço
Meia meia boca, eu diria, Sérgio. Um dente careado. Eu acho que o Bridges tem – poucos – bons momentos, mas no geral é bem mediano.
po…jeff bridges é gênio. mas esse filme é meia-boca
E é, Tiago.
Felipe, não vou nem comentar.
Tobey, não sei, vou pensar sobre o assunto. Eu acho que Closer é muito mais pretensioso.
Como assim, Roger?
Manuela, comentário muito simpático. Realmente muito significativas suas observações. Todas devidamente anotadas. Volte quando quiser.