A Versátil colocou no mercado a primeira cópia disponível de Rogopag – Relações Humanas, um daqueles filmes episódicos dirigidos por grandes nomes do cinema europeu, moda nos anos 60 e 70. No longa de 1963, Godard, Pasolini, Rossellini e Ugo Gregoretti (cujas iniciais fizeram o título) unem suas forças. O maior problema é que não há muita unidade entre os quatro curtas que compõem o filme, mas dois deles são especialmente muito bons.

Pureza, de Roberto Rossellini.

Parece haver um descaso com o tempo. Rossellini gasta muito para mostrar quem é sua personagem (a aeromoça recatada que manda fitas de vídeo para o namorado que raramente vê) e aperta o passo na hora da ação (o assédio de um empresário a protagonista). Não fica muito clara a intenção do diretor, que éca por explicar demais, justificar os atos do antagonista. O desfecho parece bem apressado.

O Mundo Novo, de Jean-Luc Godard.

Godard, Godard, para que explicar? O episódio é o mais curto. Um romance entra em crise às vésperas do holocausto. Godard parece impor o caos nas vidas das personagens, sobretudo na mulher, que muda violentamente o modo de agir e que parece não mais conhecer algumas idéias e conceitos básicos à vida social. Não deixa de ser curioso, mas sofre por deixar o final muito em aberto. Pareceu que faltou o que dizer.

A Ricota, de Pier Paolo Pasolini.

O engraçado é que o diretor de que eu menos gosto foi quem fez o episódio que eu mais gostei. Pasolini raramente foi tão bom diretor. O filme se utiliza de uma certa desordem felliniana para transformar o homem comum num mártir, numa alegoria direta à crucificação de Jesus Cristo. As interferências de cor no filme em preto-e-branco, com verdadeiras instalações humanas, são geniais, assim como a trilha sonora, que acompanha algumas cenas dignas dos melhores filmes dos Trapalhões (há vários filmes bons do quarteto). E ter Orson Welles, em ótima forma, no elenco é algo luxuoso.

O Frango Caseiro, de Ugo Gregoretti.

Primeira experiência com o diretor e uma excelente surpresa. O filme faz um ataque inteligente e sutil (tudo bem, não tão sutil assim) ao capitalismo. Do Topo Gigio ao vendedor de terrenos à beira de um lago, Gregoretti dá múltiplos exemplos de como nossa vida está infectada pela compulsão consumista. As intervenções do especialista no assunto, com voz a la Dr. Phibes analisando o comportamento do consumidor atual, tentam embasar a crítica, mas o melhor mesmo é ver a molequinha fofa do filme reprisar toda a ideologia mercadológica da época.

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