AH, ESSES COLONIZADOS DO PRIMEIRO MUNDO…
Dois filmes provam que os franceses copiam sem vergonha alguma os melodramas norte-americanos
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Comoção geral em relação a este filme. O culpado se chama Omar Sharif que, dizem as línguas boas e más tem a maior interpretação de sua carreira (ou pelo menos uma das), o que não deixa de ser bastante coisa para um filme sobre o eterno tema da amizade entre o velho e o garoto. O problema é que os elogios ao velho doutor Jivago parecem ser apenas mais uma homenagem do que algo que se tenha feito por merecimento. Não que sua performance como o bom velhinho árabe que ajuda o pequeno vizinho seja ruim. Ela apenas não tem nada de especial.
Melhor é o garoto Pierre Boulanger, que, em seu primeiro filme, consegue uma performance bem deslocada para alguém que tem que fazer cenas de sexo com putas (tudo bem, ela não eram de verdade…). O encontro dos dois personagens segue correto até que o diretor resolve transformar seu filme de vizinhança em road movie. Aí, o sentimentalismo roubado dos piores melodramas norte-americanos toma conta e as cenas finais se tornam tão constrangedoras que fariam corar até as bochechas rosadas de Lana Turner. Mas como o filme aqui veio da França a pieguice deve ser cult.
A comparação não tem nada de novo, mas este A Voz do Coração é a versão francesa para Ao Mestre, com Carinho (James Clavell, 67). Baseado em outro filme, o que mostra que os franceses também gostam de reciclar seu cinema comercial, o tema aqui é o eterno enfrentamento entre os alunos rebeldes e o professor de métodos controversos. O professor em questão é o gordinho Gérard Jugnot e os alunos da vez são os pré-adolescentes revoltadinhos de uma França rural, que ainda não havia chegado aos anos 50.
O esquema é o clássico: Jugnot chega aos poucos, sem barulho, e depois de conquistar os alunos (desta vez com um coral), se torna um ídolo para os garotos e para os colegas professores, sobretudo quando vira opositor ferrenho do diretor inescrupuloso da instituição que abriga os meninos briguentos. Tudo é muito bonitinho, arrumadinho, encantadorzinho, com muita música, composta pelo próprio diretor. E a linha segue sem criatividade até o clímax maior, que reprisa uma dezenas de filmes, suprindo sedes de justiça e enchendo nosso peito de emoção. Oh, capitain, my capitain…. Ops, este é outro filme…
UMA AMIZADE SEM FRONTEIRAS
Monsieur Ibrahim et le Coran, França, 2003.
Direção: François Dupeyron.
Roteiro: François Dupeyron e Eric-Emmanuel Schmitt, baseados no livro de Schmitt.
Elenco: Omar Sharif, Pierre Boulanger, Gilbert Melki, Isabelle Renauld, Lola Naymark, Anne Suarez, Mata Gabin, Céline Samie, Isabelle Adjani, Guillaume Gallienne, Guillaume Rannou, Manuel Le Lièvre, Daniel Znyk, Françoise Armelle.
Fotografia: Rémy Chevrin. Montagem: Dominique Faysse. Direção de Arte: Katia Wyszkop. Figurinos Catherine Bouchard. Produção: Laurent Pétin e Michèle Pétin. Site Oficial: : www.sonyclassics.com/ibrahim .
A VOZ DO CORAÇÃO
Les Chroristes, França/Suiça/Alemanha, 2004.
Direção e Música: Christophe Barratier.
Roteiro: Christophe Barratier e Philippe Lopes-Curval.
Elenco: Gérard Jugnot, François Berléand, Jean-Baptiste Maunier, Jacques Perrin, Kad Merad, Marie Bunel, Philippe Du Janerand, Jean-Paul Bonnaire, Maxence Perrin, Didier Flamand, Grégory Gatignol, Cyril Bernicot, Carole Weiss, Paul Chariéras, Thomas Blumenthal, Simon Fargeot, Théodul Carré-Cassaigne, Erick Desmarestz, Fabrice Dubusset.
Fotografia: Dominique Gentil e Carlo Varini. Montagem: Yves Deschamps. Direção de Arte: François Chauvaud. Figurinos Françoise Guégan. Produção: Arthur Cohn, Nicolas Mauvernay e Jacques Perrin. Site Oficial: : www.leschoristes-lefilm.com .
nas picapes: Voyage, Voyage, Desireless.