Vermelho Brasil

Desde que o cinema americano começou a erguer seu império, histórias de todo o lugar do mundo, de todas as épocas, ganharam versões em inglês. Era entendível. O público principal de Hollywood era o americano e como o cinema era uma atração popular, de massa, entregar filmes mais facilmente consumíveis atraíria o público. Nas últimas duas décadas, com a globalização revitalizando línguas e sotaques, começou um fenômeno inverso. Mesmo que ainda haja muitos filmes que retratam outros povos, rodados em inglês, alguns deles são feitos em suas línguas nativas, mesmo que tenham produção americana, como A Paixão de Cristo, que Mel Gibson, falado em aramaico antigo. Por outro lado, filmes feitos em outros países, na tentativa de rodar o mundo, são produzidos em inglês.

Vermelho Brasil segue esta última linha, mas com um diferencial: no filme, não é apenas um povo “estrangeiro” que fala inglês. A licença poética, para não dizer comercial, coloca franceses, portugueses e até índios se comunicando na língua pátria – da América… do Norte. Um detalhe incômodo – e meio inexplicável – dessa versão para o cinema de uma minissérie feita para TV francesa com coprodução brasileira. Baseado num livro de Jean-Christophe Rufin, misturando fatos históricos e tramas novelescas, o filme conta a história da tentativa de implementar a França Antártica, uma colônia da (então futura) terra de Napoleão na América do Sul, mais especificamente onde está hoje o Rio de Janeiro, que surge literalmente no fim da projeção.

A vontade de encontrar uma linguagem universal está em cada fotograma da produção, assinada por Sylvain Archambault, que não se preocupa em encontrar traduções do formato televisivo para o cinema. A câmera parece querer passar a impressão de ser orgânica, mas segue uma métrica de lugares comuns para filmes de paisagem – e exagera nos filtros. O roteiro, didático, conta a chegada da esquadra comandada pelo cavaleiro francês Nicolas Durand de Villegagnon, em 1550, ao Brasil. No meio disso tudo, acompanha a trama “mexicana” de dois irmãos que se infiltram na missão em busca do pai, desaparecido há muito tempo. A solução da história destes dois personagens, talvez pela truncagem da versão para cinema, talvez pela inabilidade do roteiro, é apressada de uma maneira que fica até engraçada.

O sueco Stellan Skarsgård, topa-tudo do cinema internacional, interpreta Villegagnon, numa tentativa de dar peso ao filme, junto ao português Joaquim de Almeida, outra figurinha fácil do cinema d’além-mar, que faz um colonizador português. São os nomes mais conhecidos de um elenco formado essencialmente por franceses e brasileiros, como Giselle Motta, que faz a índia Paraguaçu e só fala em inglês. Durante 90 minutos, todos os atores estão a serviço da exploração do exótico, do paraíso tropical, e para isso não se poupa, mas a direção de arte e os figurinos, caprichados, não sustentam o filme. A trama mastigada e a língua “universalizada” depõem contra as intenções de Vermelho Brasil. Talvez na tela da TV, dividido em dois capítulos, a história funcione melhor. No cinema, nada deu muito certo.

Vermelho Brasil Estrelinha
[Rouge Brésil, Sylvain Archambault, 2012]

https://www.youtube.com/watch?v=SwcgbB1u-is

Comentários

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5 comentários sobre “Vermelho Brasil”

  1. Pronto. Vim atrás de uma crítica e achei o motivo que precisava pra não perder tempo. Uma aluna indicou fortemente…daí baixei. Meio sem coragem, porque meu hd anda lotado de filme de verdade pra ver, fui passando o olho em algumas cenas cenas e logo me incomodei com a postura selvagem/sexualizada (bem ao modo ocidental) marcada no papel dos índios. Pelo passar de olhos, parece não ser possível ter tanta empatia com os nativos quanto se pretende fazer ter com os mocinhos e mocinhas brancas.

    Pelo que li aqui, não vale a pena MEEESMO.

    Foi um alento, agradecida!

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