Robert Downey Jr., Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo

Ainda estou querendo me convencer que Zodíaco não é um dos melhores filmes do ano. Não porque eu tenha problemas com o cinema de David Fincher, embora precise rever seus filmes para saber o que eu penso deles hoje. Mas porque eu realmente não imaginava que esse diretor, exatamente esse, fosse capaz de fazer um filme como esse. Por que, creia, como aquelas baladas seventies, o longa tem cheiro de coisa esquecida no fundo do guarda-roupa.

À primeira vista, não há nada a mais no filme. E talvez sua maior qualidade seja esta: aparentar não ser como é. Ele funciona como um conjunto extremamente coerente onde tudo é muito harmônico. Os conhecidos excessos visuais de Fincher parecem ter sido domados pelo fotógrafo Harris Savides (da obra-prima Elefante, de Gus Van Sant), que imprime uma atmosfera vintage perfeita à ambientação.

O resgate cuidadoso de época não acontece apenas na cenografia ou na escolha das músicas, mas forma que o filme assume. Aqui há talvez a maior concessão de Fincher, que abandona o padrão clipado de boa parte de sua cinematografia e recupera uma montagem clássica de filmes investigativos dos anos 70, cujo mérito se acentua numa decupagem exata com cada cena na sua duração perfeita.

O nome de David Shire, um cara que depois fui ver que tem formação de TV, na trilha sonora me fez desconfiar um pouco do que viria – eu sempre tenho muitas expectativas em relação à música -, mas seu trabalho me surpreendeu. É a cereja na missão de estabelecer o tempo do filme. Um tempo que não é esse e que está muito pouco preocupado com o que está fora, mas que se resolve nele mesmo.

O grande trabalho – e o grande mérito – de David Fincher no filme é como ele sabe dar credibilidade ao texto do livro em que baseou, sem parecer reverenciar o material. O filme trata de questionar certezas o tempo todo e segue pistas falsas sem usar os truques baratos das reviravoltas. Há seqüências magníficas como a visita à casa de Bob Vaughn, espetacular exemplo de como fazer uma cena aterrorizante, na mesma medida em que o susto não é o objetivo do filme, que, por sinal, trabalha quase sempre com o anti-clímax.

O elenco de Zodíaco é outro acerto. Absolutamente todos que entram em cena estão bem. Muito bem. Num primeiro momento, o filme parece ser de Robert Downey Jr., em grande fase, que cada vez parece aprender mais como usar sua afetação em prol de seu trabalho. Grandes atores como Mark Ruffalo, Anthony Edwards, ótimo, Brian Cox e Chloë Sevigny têm, cada um, seus belos momentos, mas é Jake Gyllenhaal quem segue num crescendo do começo ao fim do filme. Cada vez mais apaixonado por seu personagem, cada vez mais real. Faz tempo que não era tão bom vasculhar o guarda-roupa.

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[Zodiac, David Fincher, 2007]

Comentários

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18 comentários sobre “Zodíaco”

  1. Também gostei muito do filme. Só que eu sempre gostei dos filmes do Fincher, apesar de não achar nenhum deles uma obra prima… Mas Zodiaco é com certeza, um dos melhores do ano até agora…
    Abraços!

  2. Tô cada vez mais conhecido, Tiago. E minha lista parcial de melhores tá saindo em breve, Rodrigo. Eu votaria em “Zodíaco” em algumas boas categorias no Alfred.

    Olha, eu gostei bastante de “Clube da Luta” quando eu vi, mas o tempo me fez desgostar daquele tipo de filme. Não o revi, não sei o que penso dele hoje.

    Mudo de opinião o tempo inteiro.

    Mas

  3. Eu também não gosto de Clube da Luta (e nem do outro filme que vi dele, Vidas em Jogo – do Seven eu não me lembro de nada), mas Zodíaco é excelente mesmo. Trabalho com a atmosfera é impressionante, e, no momento, uma cena desse filme entraria no meu Alfred (aquela do assassinato no parque, com o casal – de uma secura enorme),

  4. Não tenha problemas em se convencer disso, Chico. É um dos melhores filmes do ano e, de muito longe, o melhor do Fincher.

    E, vc sabe, eu não gosto nada de Clube da luta.

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