Roberto Benigni, Jesse Eisenberg, Alec Baldwin, Penélope Cruz

É melancólico pensar que alguém do porte de Woody Allen não consegue mais financiar filmes em seu país com a mesma facilidade de outros tempos. O cineasta segue sua turnê europeia, emprestando o talento a outros sotaques e cenários. Nova York foi trocada por Londres, Barcelona, Paris e, agora, Roma. Woody parece pouco se importar com sua reputação como “artista”. Sem pudores, colocou seus serviços em leilão e atende a quem der mais sem fugir muito que sempre fez: acompanhar personagens em suas crises e devaneios particulares.

Nos últimos sete anos, acertou aqui, errou ali e dirigiu pelo menos duas obras de arte. Para Roma com Amor não se equipara a elas, mas o resultado é melhor do que a encomenda. O filme parecia ter uma vocação naturalmente turística, mas Woody explora pouco a cidade como cenário. O foco está espalhado numa infinidade de personagens que trafegam em histórias paralelas. Tantas que não há tempo de se aprofundar em nenhuma, o que talvez seja um acerto já que o longa está mais para um filme-mosaico, uma crônica cotidiana, do que para reflexão humanista.

Por conta disso, o roteiro pode parecer meio preguiçoso já que algumas histórias são mal amarradas e outras não levam a lugar nenhum. Mas há algo de genial na transformação do personagem de Alec Baldwin, apresentado como mais um do elenco, numa espécie de consciência-espelho do jovem neurótico vivido por Jesse Eisenberg. O texto desta trama é um dos mais divertidos, com Woody desconstruindo os intelectuais de boutique. A melhor história, no entanto, é a do casal de italianos que chegam à capital, mesmo que a resolução deixe a desejar. Penélope Cruz, falando em italiano, está inspirada.

De outro lado, a história do homem comum, convertido em celebridade instantânea mostra um cineasta tateando numa tema em que não tem intimidade. O roteiro dessa história chega a ser ingênuo, mas curiosamente o conjunto funciona por causa da estranheza de ver Roberto Benigni, menos insuportável do que o de costume, como protagonista da trama. O nonsense conduz a história a ponto de fazer o espectador imaginar uma natureza onírica do episódio.

O nível de expectativa pode determinar o que o espectador vai pensar do filme. É bem menos do que Meia-Noite em Paris, bem mais do que Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos. Mas certamente o retorno de Woody Allen como ator empresta um quê nostálgico ao filme. A história em que ele participa é a mais boba, mais simples, mas guarda elementos das comédias mais despretensiosas do diretor.

Para Roma com Amor EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[To Rome with Love, Woody Allen, 2012]

Comentários

comentários

4 comentários sobre “Para Roma, Com Amor”

  1. Concordo sobre a melhor história (do casal de italianos que chega à capital e tals). De resto, como já te disse, o filme não conseguiu me fisgar, como consegue quase sempre o Sr. Allen.

    1. Pois é, muita gente sentiu o mesmo que você, Fabi. Acho que o que pegou comigo foi que fui com zero expectativa. Na verdade, esperava odiar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *