À Beira-Mar

Existe uma coisa genuína em À Beira-Mar, mas, com o perdão do trocadilho, isso morre na praia. Cheia de referências a dramas europeus dos anos 70, situando sua história às margens do Mediterrâneo, Angelina Jolie quer fazer um filme introspectivo, de forte caráter psicológico, mas é incapaz de se aprofundar nos traumas de sua protagonista, mesmo reservando este papel para ela mesma. Jolie passa o filme inteiro tentando dar textura a essa personagem perturbada, mas nunca consegue sair do superficial. Suas tentativas de fazer uma montagem psicanalítica são simplórias. No máximo, premonitórias em relação às cenas seguintes. Um dos pecados da diretora é fazer da causa para a depressão de Vanessa um grande mistério, em vez de tentar analisá-la, decifrá-la e compreendê-la ao longo do filme.

Depois de alguns minutos de sessão, o filme entra num estado quase catatônico em que personagens, trama e espectador adormecem para o mundo. O voyeurismo, que poderia gerar discussões interessantes e salvar o projeto explorando a tensão ou invandindo a esfera da sensualidade, se transforma em comédia. É interessante como o filme se aproxima do ridículo, sem pudores, como se Jolie quisesse validar a descida ao inferno de sua protagonista. É ainda mais curioso com um casal tão famoso e aparentemente tão bem resolvido se permite tanta exposição, mas tudo isso parece bastante calculado. Ou seria à tôa que justamente quando dirige um filme em que atua ao lado do marido, Brad Pitt, coisa inédita em sua filmografia como cineasta, ela muda sua assinatura para Angelina Jolie Pitt. Ainda assim, ela parece entrar nessa seara da intimidade sem estar muito à vontade, então, tudo soa mais ingênuo do que corajoso.

À Beira-Mar EstrelinhaEstrelinha
[By the Sea, Angelina Jolie Pitt, 2015]

Comentários

comentários

Um pensamento sobre “À Beira-Mar”

  1. Chico, talvez o fato de a Angelina Jolie ter virado Angelina Jolie Pitt decorra de que este é o primeiro filme dela lançado após o casamento. Talvez ela tenha adotado o sobrenome dele, sei lá.

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