A LIGA EXTRAORDINÁRIA

A idéia de Alan Moore é genial. Allan Quattermain, Mina Harker, Dr. Jekyll, Mr. Hyde, entre outros… Personagens clássicos da literatura, cada qual com habilidades especiais, formam um grupo de super-heróis. Nos quadrinhos, funcionou muito bem. Rapidamente a série ganhou status cult e fãs ardorosos. Entre eles, o cineasta Stephen Norrington, que tem um mérito na vida: foi o responsável pelo ressurgimento dos quadrinhos no cinema. Seu Blade (98), inspirado num vampiro do segundo escalão da Marvel Comics, abriu caminhos para mutantes, aracnídeos e enormes criaturas verdes. Apesar de ter seus admiradores, o filme de Norrington evidencia os defeitos de seu diretor, amante de uma estética kitsch e mestre em se virar para fazer o que não pode com o dinheiro que não tem.

Este é apenas um dos problemas de A Liga Extraordinária. O filme precisava de mais dinheiro. Os efeitos especiais, sobretudo os do monstro Mr. Hyde, são tão artificiais que se aproximam do visual dos inimigos dos Power Rangers. O filme sofre pelo excesso. O desenho de produção é exagerado, fake e o pior, sofre de uma extrema falta de bom gosto. A concepção da maquiagem do homem invisível é outro ponto falho, feio mesmo. E isso incomoda muito num filme que deveria conquistar também pela estética.

Mas esse não é o único senão do filme. Stephen Norrington precisava agradar a todos e, para isso, decidiu deturpar a idéia original de Alan Moore, craidor de, entre outros, personagens fabulosos como os Watchmen e o Monstro do Pântano. Soma ao grupo original novos personagens clássicos, que garantem outras cotas – étnicas e geográficas – para deixar todo mundo feliz. A mudança prejudica o andamento da trama porque os integrantes do grupo não têm tanto espaço para serem devidamente apresentados e explorados. E a história encolhe feio e é rabiscada, sem nenhum desenvolvimento decente. Quando tenta contar uma história, Norrington esbarra na limitação de sua capacidade criativa, que aposta no excesso, criando cenas de proporções avassaladoras sem justificativa, e naufraga num mar de pouca idéias realmente boas.

A inclusão do personagem mais clássico de Oscar Wilde, Dorian Gray, parecia uma excelente opção, mas o homem do retrato perdeu completamente sua natureza homoerótica, apesar do esforço de Stuart Townsend em parecer afetado. Sean Connery faz o mesmo papel de sempre e os demais pouco têm expressão. O único grande acerto do elenco é a ótima Peta Wilson, que encarna com uma fúria impressionante a vampira Mina Harker, obejto do desejo daquele conde da Transilvânia. Ela vale o filme, embora um fã de quadrinhos – ou um fã de um bom filme de aventura – vá sair decepcionado do cinema.

A Liga Extraordinária
The League of Extraordinary Gentlemen, EUA, 2003
Direção: Stephen Norrington.
Elenco: Sean Connery, Naseeruddin Shah, Peta Wilson, Tony Curran, Stuart Townsend, Shane West, Jason Flemyng, Richard Roxburgh, Max Ryan, Tom Goodman-Hill, David Hemmings, Terry O’Neill, Rudolf Pellar, Winter Ave Zoli.
Roteiro: James Dale Robinson, baseado na série de quadrinhos de Alan Moore e Kevin O’Neill. Produção: Trevor Albert e Don Murphy. Fotografia: Dan Laustsen. Edição: Paul Rubell. Direção de Arte: Carol Spier. Música: Trevor Jones. Figurinos: Jacqueline West.

Comentários

comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *