Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ken Watanabe

A Origem é um bom filme, mas não é tudo isso que querem que ele seja não. Primeiro, é preciso deixar claro que eu não sou do time que acha o Christopher Nolan um diretor “do caralho”. Apesar de ter ficado impressionado com Amnésia há quase dez anos, achei Insônia apenas razoável, Batman Begins eficiente, O Grande Truque um belo de um golpe e, atirem as pedras, acho Batman – O Cavaleiro das Trevas superestimado. Muito, eu diria.

Nolan é um cara esforçado, não há como negar. Seus projetos são bem ambiciosos e isso, na maior parte das vezes, é bastante saudável. Além disso, aparente não ser um cara arrogante: parece sempre empenhado em entregar o melhor de um trabalho. No entanto, sua pretensão em criar filmes únicos me parece muito mais ficar na ideia. E ele já provou ser um grande vendedor de ideias, que geralmente são compradas como revolucionárias quando me parecem apenas bem executadas. Nolan não é um criador, mas um operário competente.

Essa impressão se confirma em A Origem, que, repito, é um bom filme, mas não inova em praticamente nenhum aspecto. O novo longa, com uma trama intrincada sobre invasão em sonhos, funciona bem porque seu roteiro é articulado o suficiente para permitir que o espectador embarque em seu conceito com num filme de ação envolvente. Nolan trabalha no subconsciente num nível de realidade virtual, mais elaborado, mas não muito diferente do que Kathryn Bigelow em Estranhos Prazeres, guardando proporções, especificidades e objetos-alvo dos dois projetos.

A Origem usa muitos conceitos caros às HQs, como planos de realidade alternativos e estados de consciência. É legal ver esses conceitos levados a sério num blockbuster hollywoodiano, mas não consigo enxergar nada de pioneiro no que Nolan faz. O filme chega a ser didático na tentativa de manter o espectador atento à trama. Todos os conceitos e as viradas na história são explicados quase em tempo real, principalmente pela personagem de Ellen Page, que parece estar lá para nos guiar.

O que mais me incomodou foi que algumas metáforas são quase óbvias, como a opção pelo lugar onde se escondem os segredos mais íntimos ou a maneira de se passar entre planos. Os signos usados por Nolan remetem diretamente aos que usamos nos sonhos, mas nunca chegam ao grau de complexidade dos filmes de David Lynch, por exemplo, um expert no campo onírico e em inserir seus elementos à narrativa. Lynch é um cineasta mais difícil, mas a maneira como trata os signos é mais fiel a nossa própria construção dessas experiências.

A concepção visual, um dos pontos altos do filme, é realmente muito boa: os cenários, a maioria virtual, são bem bonitos, mas os tão comentados efeitos visuais impressionam em poucos momentos, como na aparição de elementos durante o passeio de Page e Leonardo Di Caprio ou na cena em que a cidade se dobra. No mais, me parecem uma variação – não muito discreta – das câmeras ultralentas de Matrix. São bem feitos, mas raramente originais.

No entanto, o roteiro escrito pelo próprio Nolan é bastante inteligente e funciona da maneira mais pop possível, sempre procurando cutucar o espectador – e aí provavelmente criando a sensação de experiência única. Só isso já merece aplauso. Ele também é um diretor de atores eficiente e domina um elenco cheio de estrelas, com destaque para as performances de Tom Hardy e Marion Cotillard. Todos estão a serviço do filme e de suas pretensões. E a melhor maneira de encerrar esse texto é justamente dizer que, para um filme tão ambicioso, assistir A Origem foi uma experiência bastante divertida.

A Origem EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Inception, Christopher Nolan, 2010]

Comentários

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32 comentários sobre “A Origem”

  1. Chico, acabo de voltar do cinema. Não concordo contigo, pois pra mim o Nolan é do c… sim – não é o Scorsese, mas dos novatos é um dos que mais curto (junto com Marc Forster). Tenho uma pequena lista de pessoas para as quais eu adoraria cozinhar e o Nolan faz parte dela (J. Gordon Levitt tb).
    De qualquer maneira, é sempre uma delícia ler os teus posts.

  2. Na minha humilde opnião Christian Bale é um péssimo ator,seja como Batman ou com qualquer outro papel!Mas o Nolan é talentoso só que já não me surpreende mais!Apenas isso!

  3. Tambem nao acho o Nolan tudo aquilo que falam, não curto muito o estilo dele, acho que ele transformou batman em um grande filme policial ,sobre a origem espero ver um bom filme, mas que nao vai mudar minha vida, ou será que vai??kkk

  4. Não é o mesmo critico que deu três estrelas para aquele lixo de filme wolwerine que todos fãs odiaram.O Chico gostou de crepusculo acreditam?
    Pisou na bola cara!.E para Felipe miguel saber que Cristian Bale é aprovado por todos bat-fãs como o homem morcego,mais de 80% opinaram e também elogiado pela maioria da critica como um bom ator,não excelente,mais um bom ator .Aliás o proprio Chico gostou dele em indomaveis,inimigos publicos e um outro filme que não lembro e cai em contradição perseguindo o mesmo.

  5. Sério,respeito a opinião alheia e tudo mais,mas alguém que diz que Batman-O cavaleiro das trevas não é do caralho é realmente duvidável.Mas quanto A origem…Tô louco pra ver e sexta-feira vou estar em uma sala de cinema pra isso,mas será que supera Toy story 3?? Superar a Pixar é quase impossível!
    Ah…CHRISTOPHER NOLAN É DO CARALHO,sim!!

  6. Engraçado que é a mesma coisa com o Danny Boyle;ele e Nolan começaram suas carreira cinematográficas com belos filmes:”Traispotting”e”Amnésia”,depois foram só filmes cheios de pretensões que não chegavam a lugar nenhum!O último filme realmente bom do Boyle foi”Extermínio”,o resto é esquecível!E o maior pecado do segundo Batman do Nolan é o Christian Bale,ô atorzinho ruim…

  7. Atualmente está entre os melhores diretores da atualidade.sem duvida nenhuma. Fez poucos filmes e mesmo assim a maioria é bom e pelo menos 2 viraram classicos que foram amnesia e tdk que elevou os filmes sobre hq a outro nivel inclusive o nivel oscar não esqueçam.ressucitou a franquia batman com begins que é usado por muitos filmes que são feitos de hq como exemplo de iniciar bem uma serie.Engraçado que o Chico e mais 20 no maximo discordam(a nossa onião que e a certa e pronto ) de tudo que falam dele,contra 500 que em suas opniões o “superestiman”.a desproporção é incrivel neste caso.talvez vocês estejam errados.já pensaram nisso?

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