[coisa do capeta]


O primeiro A Profecia, dirigido pelo genial Richard Donner em 1976, faz parte de uma leva de grandes filmes de terror que começara no fim dos anos 60 e se estendeu durante toda a década seguinte. Filmes que uniam atores de respeito, ótimos diretores e, o principal, roteiros elegantes, muito bem escritos e assustadores. Foi assim com O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968), A Inocente Face do Terror (Robert Mulligan, 1972) e O Exorcista (William Friedkin, 1973), entre outros. Foi a era de ouro do gênero que, cá entre nós, a despeito de casos isoladíssimos, morreu. E faz tempo.

De uns anos para cá, a solução para revigorar deste tipo de cinema foi recorrer à maquina do tempo. Refazer os filmes virou aposta certa dos estúdios para capturar um filão sepultado por causa da falta de criatividade dos roteiristas de hoje, que transformaram o sangue na matéria-prima de um histórias geralmente medíocres. Mas o problema continuava. As novas versões dos filmes careciam de nomes realmente bons, dispostos a contar um boa história, e escritores dispostos a deixar atualizadas as tramas com suas visões pessoais. Veja o caos que tomou conta das “duas” reimaginações de O Exorcista.

Pois bem, aproveitando todos os ganchos possíveis, como o aniversário de trinta anos do longa original e o tal do 666, chegou aos cinemas a nova versão de A Profecia, cuja particularidade é o fato de ser uma refilmagem do roteiro original de David Seltzer. O cara que “atualizou” nem é creditado. Não fez quase nada mesmo, então, nem precisaria. John Moore refez, passo a passo, o filme de Richard Donner. Num esquema não tão meticuloso, mas semelhante ao que Gus Van Sant fez com Psicose (1998). Excesso de respeito ou aposta no seguro?

Sinceramente, o que isso importa? O resultado no filme de Moore é que o longa é eficiente (a despeito das muitas críticas negativas que tem recebido). Para começar, o diretor acertou no elenco. Liev Schreiber, grande ator, principalmente, mas há uma boas presenças de Julia Stiles e David Thewlis, e mesmo de Mia Farrow, apesar de ser a personagem mais afeita aos clichês. A nova versão tem o que um filme de terror mais precisa ter: administra bem a tensão com um timing envolvente e cria belas cenas de susto.

A pergunta que se faz é a mesma. Para quê? Qual o motivo de se contar de novo uma história tão bem contada da mesma maneira que ela havia sido contada? Qual a contribuição que o filme traz a não ser para os bolsos dos envolvidos no projeto? Não há como criticar muito A Profecia de John Moore porque ninguém viu o filme que ele fez. É um filme que nunca existiu. O que está nos cinemas é o longa de Richard Donner sem o talento de Richard Donner, sem a originalidade do texto, sem ser a primeira vez. Isso é que é maldição!

[a profecia ]
direção: John Moore.
roteiro: David Seltzer.
elenco: Liev Schreiber, Julia Stiles, Mia Farrow, David Thewlis, Nikki Amuka-Bird, Reggie Austin, Marshall Cupp, Seamus Davey-Fitzpatrick, Michael Gambon, Pete Postlethwaite, Vee Vimolmal, Matt Ritchie.
fotografia: Jonathan Sela. montagem: Dan Zimmerman. música: Marco Beltrami. desenho de produção: Patrick Lumb. figurinos: George L. Little. produção: John Moore e Glenn Williamson. site oficial:
a profecia. duração: 110 min. the omen, estados unidos, 2006.

nas picapes: [Ave Satani, Jerry Goldsmith]

[baú do cinema]

O Oscar já fez coisas de que até o Diabo duvida. Em 1976, A Profecia concorreu a duas estatuetas da Academia. Além da excelente trilha de Jerry Goldsmith, que terminou premiada, o filme ainda foi finalista na categoria de melhor canção. Agora, imagine a casta de Hollywood assistindo a performance ao vivo de uma música chamada “Ave Satani”.

Comentários

comentários

12 comentários sobre “[a profecia]”

  1. Concordo inteiramente com seu texto, Chico. Esse novo A Profecia é um filme de terror que funciona muito bem, mas por méritos do longa original. Não há razão para esse filme existir, a não ser financeiras. Também escrevi sobre ele lá no blog, dá uma passada por lá.

  2. Essa versão é medonha e um insulto ao original. Tirando Thewlis, todos estão patéticos, principalmente aquele menino que passa o filme inteiro com cara de quem não ganhou sobremesa. Ainda por cima banalizam todas as cenas de mortes, tornando-as cômicas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *