Uma Vida Iluminada, de Liev Schreiber.

O filme de estréia de Schreiber, bom ator, na direção é uma mistura de bobagem-fofinha e filme-plástico que se vende pela estranheza. Há certa identificação com o carinho com que o diretor conduz a trama, mas não há méritos maiores no filme.

Senhor Vingança, de Park Chan Wook.

Park Chan Wook antes de Oldboy, em estado bruto. Em se tratando de roteiro, é talvez o mais bem resolvido da trilogia, ainda que linear, por manter um crescendo que não pára. Há muitas boas idéias, sem recorrer aos subterfúgios da cronologia esfacelada. Visualmente, menos estilizado, rascunha o que o diretor viria a fazer depois.

Lady Vingança, de Park Chan Wook.

Park Chan Wook depois de Oldboy, em estado mais estilizado. Radicaliza a concepção visual – praticamente mantém intacto o domínio de espaço que já revelava no filme mais famoso – com soluções encantadoras para situações simples (há cenas magníficas). O problema é que o golpe finaldo roteiro, que amplia o sentido da vingança, dilui bastante a força da história.

Todas as Crianças Invisíveis, de Spike Lee, Katia Lund, Emir Kusturica, John Woo, Stefano Veneruso, Mehdi Charef e Jordan & Ridley Scott.

Filme-ONG por excelência, com a maioria dos diretores presos a uma didática tão tola quanto não-funcional. Spike Lee é o mais radical: nos minutos finais de seu curta, assume seu trabalho como “filme de serviço” sem dó nem pena. Longa em episódios sempre é um problema. Charef e Veneruso querem mostrar o problema e só. John Woo quer o mesmo, mas filma melhor. Os Scott recorrem ao fantástico para fazer um filme que se pretende lindo e soa artificial. Kusturica faz filme de verdade. Curiosamente, é do Brasil que vem o melhor episódio: Katia Lund mais neo-realista que qualquer coisa, apenas acompanha seus personagens, sem maniqueísmo, sem interferências.

2046, de Wong Kar Wai.

Há muitos momentos de obra-prima neste engenhosíssimo filme de Kar Wai. O filme retoma a personagem de Tony Leung em Amor à Flor da Pele para criar um belíssimo conjunto de camadas de tempo e espaço em que a ação se mistura e literatura e história se confundem. Leung, perfeito, e suas mulheres lindíssimas, valorizadas pela melhor fotografia do ano, ainda melhor que a do filme anterior.

Brokeback Mountain, de Ang Lee.

Muito bom o novo filme de Ang Lee. Realizado como cinema clássico, se estrutura num molde de melodrama de amor impossível, filmado com cuidado e precisão, sem qualquer arroubo de inovação. Lee parece querer apenas fazer um filme da Hollywood antiga, idéia que é perceptível na fotografia (quadros imensos, muita câmera parada como um western bem feito), e na música como moldura. Nenhum exagero, nenhum panfleto; uma história universal. Heath Ledger está realmente impressionante com seu caubói das antigas.

Eros, de Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh e Wong Kar Wai.

Meu deus, meu deus, por que abandonastes o Antonioni? Seu filme é rodado num digital paupérrimo, com cenários e atores que parecem de filme pornográfico. Há uma grande vazio narrativo e de discurso. Steven Soderbergh peca porque quer parecer inteligente com sua verborragia intelectualóide e pretensamente bem humorada. Quem salva o filme da bomba total é o episódio de Kar Wai, maravilhosamente bem amarrado, dono de uma sutileza absurda e de um completo domínio plástico.

Comentários

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6 comentários sobre “Festival do Rio 2005: dia 5”

  1. nao consigo gostar tanto do “senhor vingança”, mas concordo q ele é mais redondo em termos de retorno. comentei com você que concordava com a solução do “Lady” – personagens surgem do nada para resolver a questão mais importante da trama. mas a triz é belíssima e magnífica, né?

    brokeback foi o meu melhor filme do festival (vi muitos poucos este ano). apesar da aparente simplicidade, ele tem várias camadas de análise, nenhuma panfletária e nenhuma estereotipada. foi muito bom ver este filme com você.

    Leo Name, que agora conchece o filmesdochico (que ainda me deve um almoço, ehehe)

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