O Jardim das Aflições é completamente inofensivo. Toca rapidamente no momento político atual para não parecer alienado, mas o objetivo mesmo parece ser vender a figura de Olavo de Carvalho como pensador. As ideias que o filósofo autodidata lança são antigas, pro mundo e para ele mesmo (segundo ele mesmo), e por este motivo mesmo, apesar de algumas serem bem reacionárias, não ofendem mais ninguém.
Olavo está bem disposto a aproveitar o veículo e assegurar novos seguidores se fazendo parecer coerente, simpático e ilustrado, mas seus discursos no filme são tão empíricos, apesar de ele se declarar um apaixonado pela realidade, que o filme é quase uma daquelas aulas em teleconferência que o filósofo autoditada ministra.
O melhor momento do filme é quando Olavo ri de seu próprio séquito: “eu sou um pára-raio de malucos” e descreve duas ou três situações em que estes “malucos”, chamados assim mesmo várias vezes, interagiram com ele. Ajuda a explicar a exceção, mas não a regra. O fato é que sua prepotência, aqui camuflada, dialoga muito bem com uma camada conservadora da população com uma filosofia de vida bem cristalizada.
O diretor Josias Teófilo tenta adotar uma postura bem neutra em relação a seu objeto, como se o simples fato de escolher este objeto e não confrontá-lo não indicasse seu posicionamento para com ele. De maneira geral, é um veículo para Olavo e um documentário bastante quadrado em tempo de quebra de paradigmas. Usa filmes para construir a narrativa, dos quais apenas Ivan, o Terrível, do Sergei Eisenstein, é citado nominalmente (há também No Tempo das Diligências, do John Ford, e Aurora, do Murnau, entre outros). Mas nem isso torna a construção deste documentário mais interessante ou sua postura mais engajada com seu objeto. Um comodismo decepcionante até para polemistas natos como Olavo de Carvalho.
O Jardim das Aflições
[O Jardim das Aflições, Josias Teófilo, 2017]