SAMSARA

Nem todo mundo é Ang Lee. Antes de recriar super-heróis verdes nos Estados Unidos, o cineasta de Taiwan era dado a discutir temas que colocavam a família e as tradições de sua terra natal em seus filmes. A dedicação garantiu pelo menos uma obra-prima, Comer Beber Viver (94), além de outros belos filmes. Samsara, guardando as devidas proporções, também é um filme sobre família e tradições. Mas o diretor Pan Nalin segue por um caminho distante do de Ang Lee. Aposta numa tentativa frouxa de fazer poesia com imagens belíssimas e lentidão. Textos filosoficozinhos e pouca profundidade real. Samsara tenta seguir os moldes de um dito cinema oriental, mas falta movimento. Não o movimento de filme ocidental, mas motivação, interesse despertado no espectador. Pan Nalin faz de seu filme um exemplar de um cinema contemplativo, onde acontece pouca coisa.

Pode parecer falta de sensibilidade não enxergar justamente ela, a sensibilidade, neste filme. Mas Samsara, que narra os anos em que um monge abandona o monastério em troca de uma vida familiar, reproduz uma história chavão, cheia de lições e moralista em excesso. Se fosse feito nos Estados Unidos, seria um melodrama cheio de clichês, mas a aura de filme oriental o disfarça de discussão aprofundada e delicada sobre o homem, as prioridades e o amor. O filme até tenta escapar deste destino, mas ao apostar no protagonista (e no homem, em geral) como um produto de sua história e de seus arredores caminha até um final onde o que vale é o passado, a tradição, o antigo. Nem a bela fotografia, que é excessiva no uso de filtros e mais filtros, equilibra o filme de Pan Nalin. Nem todo mundo é Ang Lee.

Samsara
Samsara, França/Índia/Itália/Alemanha, 2001
Direção: Pan Nalin.
Elenco: Shawn Ku, Christy Chung, Neelesha BaVora, Lhakpa Tsering, Tenzin Tashi, Jamayang Jinpa, Sherab Sangey, Kelsang Tashi, Tsepak Tsangpo, Antoine du Merle.
Roteiro: Tim Baker e Pan Nalin, com base na história de Nalin. Produção: Karl Baumgartner e Christoph Friedel. Fotografia: Rali Raltschev. Edição: Isabel Meier. Direção de Arte: Petra Barchi. Figurinos: Natasha De Betak. Música: Cyril Morin.

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