SEGUNDA-FEIRA AO SOL

Em 2002, a Espanha surpreendeu a todos ao indicar oficialmente para concorrer ao Oscar o filme Segunda-Feira ao Sol, de Fernando Léon de Aranoa, em detrimento do célebre Fale com Ela, do mais célebre ainda Pedro Almodóvar. Os dois são filmes de macho, dirigidos por homens, estrelados por homens e sobre a vida de homens. O segundo solidifica a nova fase da carreira do mais conhecido cineasta espanhol, mais sério, mais sóbrio e melhor diretor. O primeiro é um filme de e com intenções sócio-políticas muito firmes, um filme engajado de um diretor quase desconhecido.

A revolta foi geral e, enquanto o candidato oficial da Espanha não chegou nem perto de uma das cinco vagas entre os melhores estrangeiros, a Academia não só indicou Almodóvar como melhor diretor e roteirista, como garantiu um prêmio no último quesito. Comparar dois filmes nunca é bom, mas no caso de obras que nasceram tão rivais parece, no mínimo, interessante. Ainda que completamente diferente, Segunda-Feira ao Sol é melhor que Fale com Ela. Principalmente porque, se o filme concorrente ratifica uma nova proposta de um bom cineasta, mas não é seu melhor trabalho, o longa de Aranoa é um caso raro de filme político que funciona.

Nesta área, o maior nome, ou pelo menos o mais conhecido, é o de Ken Loach. Mas Aranoa acerta onde Loach sempre falha: na humanização de seu cinema. Enquanto para Loach o cinema é arma contra a massa de manobra capitalista coercitiva e as ditaduras radicais, o filme para Aranoa é uma maneira de fazer justiça para as pessoas. E é justamente este trunfo, o de trabalhar personagem por personagem, sem concessões ao óbvio, que faz de Segunda-Feira ao Sol um filme quase sem parâmetros no cinema político atual.

Convenhamos que fazer um longa sobre homens que não conseguem arrumar um emprego depois de terem sido demitidos de um estaleiro parece pouco atraente para um público cada vez menos disposto ao exercício do pensamento, mas é justamente isso que o cineasta costura em seu filme: o mergulho no personagem, a identificação. Para isso, ampara-se numa interpretação dura e difícil de Javier Bardem, o melhor ator espanhol em atividade, que revela porque merece esse título na cena em que descobre o triste fim de um amigo. Bardem está ao lado de um elenco quase desconhecido, mas que esbanja intensidade semelhante a de sua interpretação. O filme de Aranoa pode não ser para todos como Fale com Ela e nem atingir seus propósitos na totalidade, mas faz o espectador parar por duas horas e pensar, sem perceber. E isso é bem raro.

Segunda-Feira ao Sol
Los Lunes al Sol, Espanha, 2002
Direção: Fernando Léon de Aranoa.
Elenco: Javier Bardem, Luis Tosam, José Angel Egigo, Nieve de Medina, Enrique Villén, Celso Bugallo, Aida Folch, Joaquín Climent, Serge Riaboukine, Laura Dominguez, Pepo Oliva, Andrés Lima.
Roteiro: Fernando Léon de Aranoa e Ignacio del Moral. Produção: Elías Querejeta e Jaume Rores. Fotografia: Alfredo F. Mayo. Música: Lucio Godoy. Direção de Arte: Julio Esteben. Edição: Nacho Ruiz Capillas. Figurinos: Maiki Marín.

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