Os filmes que você vai ver na lista abaixo não são filmes ruins (embora alguns namorem com essa ideia), mas são obras celebradas de uma maneira ou de outra por algumas razões questionáveis. Uns ganharam prêmios. Outros fizeram sucesso de público. E ainda há alguns que foram darlings da crítica. Mas não me convenceram. Opinião, como a gente sabe, cada um tem a sua, e estes filmes aqui, na minha humilíssima opinião pecam ou por falta de profundidade ou falta de substância. Ou ainda pelo excesso de empostação ou até pela mania de grandeza. Aí vai minha lista anual de filmes mais superestimados do ano.

Trapaça

5 Trapaça [American Hustle, David O. Russell, 2013]

Um promete muito, mas não cumpre quase nada. Temos um bom elenco em interpretações que são boas, mas nunca oferecem realmente um diferencial. Temos uma trama cuja primeira referência – ou pelo menos a mais óbvia – é o cinema de Martin Scorsese dos anos 70 e 80, mas que, sob o pretexto da leveza, de ser uma “comédia”, não sabe muito bem como se aprofundar nos detalhes da história ou no desenho dos personagens. Temos uma direção que não sabe encontrar um tom certo, o que resulta num filme que é um pouco de tudo e não é muita coisa também.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

4 Hoje Eu Quero Voltar Sozinho [Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Daniel Ribeiro, 2014]

Eu Não Quero Voltar Sozinho ganha em comparação com seu descendente: é um filme melhor que, em 17 minutos, desenvolve os personagens de maneira singela e resolve a trama com delicadeza e soluções simples. A versão em longa-metragem traz os mesmo trio de protagonistas, Ghilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim, que interpreta a única amiga de Leo, Giovana, mas apresenta novos personagens e situações. Algumas cenas parecem espichadas do curta e outras, que mudam algumas das resoluções originais, deixam a desejar no desenvolvimento da trama.

12 Anos de Escravidão

3 12 Anos de Escravidão [12 Years a Slave, Steve McQueen, 2013]

Todos, inclusive o diretor, parecem ter se amedrontado diante do tema que resolveram trabalhar. Arriscar num assunto tão delicado poderia parecer uma afronta, então a diretriz principal foi apostar no feijão-com-arroz. Porque mesmo as comentadas cenas de violência do filme não assustam muito quem assistiu a qualquer folhetim televisivo brasileiro sobre a escravatura. Por sinal, nosso país abordou o tema com bem mais propriedade do que o cinema americano.

Mommy

2 Mommy [Mommy, Xavier Dolan, 2014]

Xavier Dolan dirige compulsivamente há seis anos. Já tem cinco longa-metragens, mas ainda não conseguiu amadurecer seu cinema. Talvez porque a maior marca deste cinema seja uma suposta jovialidade que justifica o comportamento impulsivo, quase descontrolado de seus personagens. Mesmo que Mommy represente um passo à frente em sua mise-en-scène, a obra do jovem diretor canadense ainda parece birra de adolescente irritado com os pais.

Interestelar

1 Interestelar [Interstellar, Christopher Nolan, 2014]

O grande problema deste filme é o grande problema do cinema de Nolan. Para o diretor, tudo precisa ser feito em larga escala, todo filme é construído num tom solene, quase megalomaníaco. Todos seus filmes, desde Batman Begins, parecem querer ser versões definitivas para o que se propõem. E como eles têm temas divertidos como heróis em quadrinhos, truques de mágica, o mundo dos sonhos e viagem espaciais, a brincadeira inevitavelmente se perde. Os atores parecem dirigidos para que todas cenas pareçam muito sofridas, dolorosas mesmo, como se o filme buscasse numa base espiritual outro suporte para suas invenções pseudo-científicas. McConaughey chora. Jessica Chastain chora. Anne Hathaway chora e protagoniza um dos momentos mais constrangedores dos diálogos do filme, quando Nolan quer dar um crédito científico para o “poder do amor”, como um meio confiável para tomar decisões no espaço sideral.

Veja também os filmes mais superestimados de 2013, 2012, 2011, 2010 e 2009.

Comentários

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124 comentários sobre “Top 5: os filmes mais superestimados de 2014”

  1. Vejo alguns comentários tão agressivos e me pergunto qual a necessidade disso. Não conhecia seu blog, fui direcionado pra cá pelo portal do Uol e achei formidáveis as suas colocações, pelo menos no que diz respeito a American Hustle e 12 Years a Slave, que são os filmes que eu conheço. Vi comentários sobre Anabelle e outros filmes, mas acredito que tais filmes não se propõem a algo mais que assustar e passar o tempo, ao contrário do filme de Steve McQueen, que se propõe a abrir os olhos para o tema da escravidão, inclusive contemporânea, como ele discursou ao ganhar o Oscar. Nossas novelas já abordaram até com mais profundidade o tema da escravidão clássica (em Xica da Silva, Sinhá Moça, A Escrava Isaura, Força de um Desejo) e a escravidão contemporânea (Salve Jorge – essa de qualidade bem duvidosa). Para finalizar, eu considero O Som ao Redor um filme superestimado, apesar de gostar do filme e de Kleber. E Nebraska é um filme que eu gostaria que tivesse muito mais atenção do que teve.

  2. Interestelar foi uma decepção total. É raro um filme de ficção científica ser bom e não descambar para a viagem na maionese. Aquele negócio de amor e da biblioteca da filha… que b****.

  3. Ouvi muitas pessoas se queixando de Interestelar….acho que quem levou o filme a sério demais foram exatamente essas pessoas. Qualquer um que parta da premissa que os primeiros 20 minutos de Interestelar são factíveis deveria fazer um exame de consciência! O filme é muito bom sim! Tem começo, meio e fim e um roteiro bem arrumadinho! É ficção científica e como tal não agrada aqueles que resolvem analisá-lo sob a crítica conveniente seja da ciência, seja do humanismo proporcional a realidade! Por que o personagem de Anne Hathaway não poderia chorar faltando 10 minutos pra morrer e perder a única chance de se encontrar com alguém a quem amava profundamente? Qual débil mental não choraria de desespero ou de tristeza? Mathew McConaughey não poderia chorar por que? Deixou sua família pra morte certa e descobre que foi vítima de um embuste? O personagem de Chastain perdeu o pai! Claro ninguém chora nessas situações! Será que quem avalia não está usando dois pesos e duas medidas? Na boa, não gostou do filme? Ótimo nem todo filme bom a gente gosta! Eu achei Avatar uma porcaria! Uma forçação de barra tremenda ! Um puta mundo em preto e branco, ou melhor em azul e branco! Só que Avatar é ficção científica e como tal deve ser olhado! Num mundo onde as coisas são daquele jeito suas proposições são bem legais e só! Interestelar é da mesma forma! A única pretensão que encontrei foi fora do filme, justamente das pessoas que se dedicaram a criticar….

  4. Eu considero “Interestelar” uma das maiores comédias da história.
    Nunca ri tanto em uma sala de cinema como na cena em que o astronauta Mcconaughey se esconde atrás da estante para se comunicar com a filha. Deixa no chinelo qualquer coisa que o Monty Phyton já fez.
    Christopher Nolan é um visionário, essa é a verdade.

  5. É a primeira vez que leio uma matéria sua, Chico, porque o título me chamou a atenção. Mas eu ainda prefiro as colunas de Érico Fuks, Rubens Ewald Filho, entre outros… Mas fiquei encantado com a dinâmica de sua coluna e, principalmente, com o seu cuidado seu com seu público leitor. Você tem respondido a todos eles, como consegue? Parabéns e um grande abraço.

  6. “Trapaça” é muito, muito, muito sem graça! E mesmo as interpretações que todos falam.. eu não vi nada demais ….exceto o Bale.. Amy Adams , parece que qualquer coisa que ela faça ela é elogiada, ela é premiada.. sempre sem muito porque!
    Da tua lista, só discordo de “Doze Anos de Escravidão” , acho um excelente filme… não é nada que vai marcar a história do cinema… mas acho que para o ano, foi um dos melhores…

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